O Primeiro Beijo de 2025

Que loucura. Já faziam mais de dois meses que eu não beijava ninguém. Não que isso fosse algo planejado, um voto de castidade moderno ou um experimento social para ver quanto tempo um ser humano pode sobreviver sem um afago nos lábios. Não. Foi só a vida acontecendo, atropelando dias, semanas e, quando percebi, o calendário já dizia "2025" em letras garrafais, como quem faz questão de esfregar na cara o quanto o tempo passa rápido — e a gente, às vezes, fica parado.

Eu sempre achei curioso como os poetas se apegam ao amor — ao que tiveram, ao que perderam, ao que nunca tiveram. Talvez porque o amor seja uma ferida boa de cutucar, um machucado que arde gostoso na memória. Faz muito tempo que não digo “eu te amo” para alguém. Quer dizer, romanticamente falando. Para amigos, família, até para o meu cachorro, essas três palavrinhas saem fáceis, leves. Mas para alguém que faz o coração tropeçar? Ah, aí é outra história.

Eu te amo.

I love you.

Te quiero.

Ti amo.

Je t’aime.

Ich liebe dich.

Я люблю тебя.

Quérote.

Mi amas vin.

Não importa o idioma, o peso é o mesmo. Carrega a promessa silenciosa de que você vai tentar — pelo menos tentar — não decepcionar quem ouve.

E aí veio ela.

Quer dizer, ela sempre esteve por ali. Nos conhecemos há anos, desses encontros que o destino parece gostar de costurar com um fio invisível, como se estivesse guardando algo para depois. E, olha, o “depois” chegou no dia mais improvável, da forma mais banal possível. Uma festa meio sem graça, música alta demais para conversas profundas, luzes piscando em um ritmo que parecia querer nos hipnotizar para dançarmos mesmo sem vontade.

E, de repente, estávamos ali.

Não teve trilha sonora romântica tocando no fundo. Não teve câmera lenta, nem chuva dramática caindo para deixar tudo com cara de filme. Só tinha eu, ela, um silêncio rápido entre uma piada e outra, e um olhar que durou um segundo a mais do que o normal. Foi o suficiente.

O beijo aconteceu assim, sem roteiro, sem ensaio. Só aconteceu.

E foi só um beijo. Um simples encontro de lábios que poderia ter sido mais um na coleção despretensiosa da vida. Mas não foi. Porque, naquele instante, o mundo ficou um pouquinho mais quieto. O gosto dela misturado ao da cerveja barata, o cheiro suave do perfume, o calor sutil da mão encostando na minha nuca… detalhes pequenos que grudaram na memória como se fossem importantes demais para serem esquecidos.

E sabe o que é mais louco? Eu nunca tinha cogitado isso antes. Anos de amizade, piadas internas, conversas sobre tudo e sobre nada, e nunca — nunca mesmo — pensei em beijá-la. Até aquele momento. Até o nosso momento.

Talvez o meu próximo “eu te amo” não seja para ela. Talvez os sentimentos dela por mim nunca passem daquele beijo. Mas, quer saber? Tá tudo bem. Porque o primeiro beijo de 2025 foi dela. E isso, meu amigo, já é mais do que suficiente para marcar um ano inteiro.

Vai ver é isso que os poetas querem dizer quando falam de amor. Não é só sobre o “para sempre”. É sobre o “agora”. Sobre o arrepio inesperado, o sorriso bobo depois, o pensamento que volta para aquele instante enquanto você lava a louça ou espera o ônibus.

E, sinceramente, que beijo.

Pasia Aventuristo
Enviado por Pasia Aventuristo em 07/02/2025
Código do texto: T8258962
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