O "MUNDO" DE HOJE
A expressão "mundo" é generalizada demais. Os seres terrenos continuam narcisistas reduzindo o planeta Terra a mundo. Mas, vamos lá...
Sentou-se no meio fio de uma rua isolada e sem movimento. Queria sentir o vento e a sombra que vinha da pitangueira. De repente, a sua frente, abriu-se a garagem de uma enorme casa. Olhou para sua direita e descia uma moto. Preocupou-se com o motociclista é lógico, sendo este o mais vulnerável.
O motociclista passou e o carro também, mas este último por cima dela. Ponto cego? Sei lá... Viu o carro dando a ré em sua direção e pensou: É sério que ele não me vê? Também não saiu. Deixou-se ser atingida, e com mais uma ré do motorista, amoleceu o corpo. Sim, ao cair de uma escada ou altura, ou batendo de frete com algo mais duro que você, deixe o corpo mole. Enrijecer só faz quebrar a parte mais frágil.
Desesperado o motorista abre a porta, desce e fala com a pessoa.
- Se machucou?
- Um pouco.
- Não te vi.
- Nem percebi... Não tem sinal ou câmera de ré no seu carro?
- Não. Quer que eu chame a SAMU?
- Nesta cidade? Moço, volta pro carro e atropela direito que saio no lucro.
- Por quê?
- Sou maluca.
- O que faz aqui?
- Estava pegando umas pedrinhas.
- Do meu vizinho?
- Do seu vizinho só a sombra.
- Onde você mora?
- Esquece, não vou te denunciar.
- Não é por isso. Você vai ficar bem?
- Hum, rum.
- Posso ir embora despreocupado?
- Vai, moço!
A moça chorou um pouco.
O moço abriu a porta do carro e partiu com uma lágrima.
Tudo isso me fez pensar em quem corria mais.
As lágrimas de ambos, o automóvel ou o vento.