Velharias

Vou deixar a porta aberta

Cansei de tentar esconder

Sejam bem vindos às minhas ruínas

A força destrutiva que procurei reter

A implosão foi sumária

Não deixei ninguém perceber

Peço-lhes que não toquem em nada

Não arrumem!

Deixem tudo como está

Entendam que esse é o preço que pago por ser eu mesmo

Insisto em ter vontade própria

Isso é um processo lento e paulatino

A poeira cobre alguns baús

Não tem nada de valor para o mundo em que vivem

São tudo velharias de uma alma antiga

Cada palavra em seu lugar

Poemas sobre luar

Amores antigos e não declarados

Cadeiras e mesas de tempos imemoriais

Nostalgia de um velho jantar

Imagens em preto e branco de um extinto paraíso onde fiquei por muito tempo

Aqui jaz um velho autor de obras não publicadas

Metamorfoseando-se numa estrada

Um deserto, um Elias

Cada cicatriz é um livro que sempre releio

Meu relevo é completamente áspero e denso

Cuidado com os espinhos que semeei e estão espalhados na casa

Pessoas

Lugares

Histórias e saudades

Nesse jardim nasceu minha humanidade

Observem bem o poço fundo do quintal

Nele há sempre alguém me olhando

Certamente algum ancestral querendo fazer minha ponte pro outro mundo

Não percam nenhum detalhe

Esse é meu pequeno mundo

Fósseis em natura de um tempo sem endereço

Meu apreço a essas quinquilharias me faz um louco na modernidade

O preço é a solidão

Mas, me acostumei a essa realidade

Por isso fico sempre aqui

Não dá para receber muita gente

E assim fico mais à vontade

A porta está aberta

Apenas uma velha casa no pé da serra

Tudo é rústico, frágil e empoeirado de saudade

Uma saudade que acompanha

Um certo ar de castidade

Uma porta secreta você pode encontrar

E encontrar o que não é mais novidade

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 07/11/2024
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