Velharias
Vou deixar a porta aberta
Cansei de tentar esconder
Sejam bem vindos às minhas ruínas
A força destrutiva que procurei reter
A implosão foi sumária
Não deixei ninguém perceber
Peço-lhes que não toquem em nada
Não arrumem!
Deixem tudo como está
Entendam que esse é o preço que pago por ser eu mesmo
Insisto em ter vontade própria
Isso é um processo lento e paulatino
A poeira cobre alguns baús
Não tem nada de valor para o mundo em que vivem
São tudo velharias de uma alma antiga
Cada palavra em seu lugar
Poemas sobre luar
Amores antigos e não declarados
Cadeiras e mesas de tempos imemoriais
Nostalgia de um velho jantar
Imagens em preto e branco de um extinto paraíso onde fiquei por muito tempo
Aqui jaz um velho autor de obras não publicadas
Metamorfoseando-se numa estrada
Um deserto, um Elias
Cada cicatriz é um livro que sempre releio
Meu relevo é completamente áspero e denso
Cuidado com os espinhos que semeei e estão espalhados na casa
Pessoas
Lugares
Histórias e saudades
Nesse jardim nasceu minha humanidade
Observem bem o poço fundo do quintal
Nele há sempre alguém me olhando
Certamente algum ancestral querendo fazer minha ponte pro outro mundo
Não percam nenhum detalhe
Esse é meu pequeno mundo
Fósseis em natura de um tempo sem endereço
Meu apreço a essas quinquilharias me faz um louco na modernidade
O preço é a solidão
Mas, me acostumei a essa realidade
Por isso fico sempre aqui
Não dá para receber muita gente
E assim fico mais à vontade
A porta está aberta
Apenas uma velha casa no pé da serra
Tudo é rústico, frágil e empoeirado de saudade
Uma saudade que acompanha
Um certo ar de castidade
Uma porta secreta você pode encontrar
E encontrar o que não é mais novidade