Fragmentos de Saudade
Fragmentos de Saudade
(Gilmar Souza)
No tic-tac do tempo
Dias vão, dias vem
Dias quentes, dias frios
Dias mal, dias bem
Dias de ter companhia
Dias de não ter ninguém
Dias de muita fartura
Dias sem nenhum vintém.
Dias ensolarados
Dias em que há de chover
Dias de se alegrar
Dias de se entristecer
Dias de se animar
Dias de se esmorecer
Dias de se encontrar
Dias de não mais me ver.
Quando chegar esse dia
De você não mais me ver
Saiba que vai me sentir
Pressentir, me perceber
Estarei ao teu redor
A te tocar, a te envolver
Para que não se sinta só
Um anjo a te proteger.
Eu estarei presente
Na folha que balançar
No ar que move a vida
E que lhe faz respirar
Num sopro em teus cabelos
No beija-flor a te cortejar
No assobio de um passarinho
Que te alegra ao cantar.
Nem sempre, nem para sempre
Você poderá me enxergar
Mas sempre irá me sentir
E para sempre me notar
Na música preferida
Que toca e faz recordar
Nas cores e nos sabores
Em um leve arrepiar.
Nas tantas palavras ditas
Nas horas de passatempo
Nos risos, choros, gemidos
No prazer e no lamento
Nas mãos postas em prece
Nas luzes do firmamento
No imenso vazio do peito
No compasso dos batimentos.
Me verá na paisagem
Quando abrir a janela
Na chuva que cai lá fora
No fogo que acende a vela
Nos lugares por onde andamos
Na foto estampada na tela
Na escuridão da noite
Nas manhãs de aquarela.
Assim sendo, nessa hora
Não sinta melancolia
Saudade sim, sem tamanho
E o que mais sentiria?
Lembre-se que não morri
Pra você não morreria
Eu apenas entrei
Em estado de poesia.