SEXTA-FEIRA À NOITE
(reminiscência)
Aconteceu assim: naquele dia 15 de novembro de 1982 eu acordei muito cedo. Era uma segunda-feira, estava de folga do trabalho que fazia ali em Casa Verde, na cidade de São Paulo (SP), mas passaria o dia em Campinas, distante 93 quilômetros da capital. Santos, meu colega de trabalho, era um jovem baixinho, com traços indígenas, natural da cidade de Belém (PA), que trabalhava em outro bairro da Zona Norte, metido a engraçado, imitando perfeitamente Patolino, personagem dos desenhos animados, creio que criação de Hannah e Barbera. Pois bem, combinamos viajar juntos para ele visitar um pessoal conhecido seu. Fomos de Casa Verde até o bairro de Santana no ônibus que tomamos na extensa avenida Casa Verde, e de lá tomamos o metrô para a Estação Tietê no terminal rodoviário. Viajamos num confortável Dinossauro da Cometa, realizando um sonho bobo meu que amo aquele antigo modelo de ônibus da carroceria Ciferal. Aliás, o Dinossauro era um modelo feito exclusivamente para a Viação Cometa - em que depois eu viajaria para Porto Ferreira, Ribeirão Preto, Pirassununga, Araraquara, São Carlos, e outras cidades do interior paulista. O 15 de novembro de 1982 foi Dia de Eleição. No estado de São Paulo era forte a candidatura do senhor Franco Montoro, que foi eleito governador, e a de Orestes Quércia eleito senador, ambos pelo PMDB. Campinas "fervia" em grande agitação, jamais eu tinha visto tantos "santinhos" de políticos em toda a minha vida. Rolavam aos montes, sobre as calçadas, carregados pelo vento. Lembro-me de ter guardado mais de vinte de candidatos diversos. Seria um souvenir de minha primeira passagem por Campinas (eu voltaria mais duas vezes no ano seguinte). "Santinho", como era chamado, me levou na casa de uma agradável família em um bairro que nunca me lembro do nome. Algo como Jardim das Indústrias, Jardim Industrial, Parque Industrial, um nome desses assim. Lembro-me de ter visto muitas casas bonitas por ali. Como eu disse, uma família extremamente agradável nos aguardava. Santos era metido a tocador de piano e foi logo sentando no banquinho da bonita peça. Fez gestos de estalar os dedos das mãos, depois o gesto dos grandes pianistas de jogar a parte de trás do paletó, evitando se sentar sobre parte da vestimenta. Tudo caricaturar do meu colega para fazer todo mundo rir. Em seguida ele "atacou" com uma frenética canção de filmes de faroeste - aquelas executadas nas cenas de Saloon antes, ou depois, de uma briga. Mas eu queria ouvir música na vitrola. A bela e sorridente senhora da casa, exibindo um bonito corte de cabelos curtinhos, na ânsia de me agradar, entregou-me um disco de um grupo, até aquele momento totalmente desconhecido por mim, de nome Arabesque. Três lindíssimas garotas, que posava na capa do álbum, cantaram para mim a canção "Friday Night". Quase que eu furava aquela faixa, repetido-a algumas vezes, pois apesar de não entender NADA de inglês, foi paixão à primeira "ouvinda" daquela descontraída melodia.
Chico Potengy. 🎶🌵