Um dia comum

Dia 30 – quarta-feira

Errei a mira e joguei o brinquedo de corda que fiz pra minha cachorra. Caiu no telhado. Inaceitável. Odeio perder coisas.

Estava anoitecendo nesse momento. Mais pra noite que pra dia.

Peguei a escada e pedi que meu filho a segurasse firme. Ele o fez e eu peguei o brinquedo, com muita dificuldade e o auxílio do cabo de limpeza da piscina. Se meu filho não segurasse com força eu teria levado um tombo bem feio; esses “ses” estão acabando com minha sanidade mental. Em compensação, são eles que me ajudam a criar histórias; o conto Sarambikue surgiu daí.

Enquanto eu tentava pegar o brinquedo, os besouros que ficam loucamente sobrevoando as beiradas (de folhas, de telhas) deram investidas em nós. A gente riu; porque dá uma aflição aquelas perninhas. Não que eles mordessem ou picassem, não.

Uma adrenalina.

Quando a gente ficou olhando pra eles e refletindo, eu disse que pode ser que eles brinquem de noite ou dia.

No crepúsculo tudo fica preto. As árvores, as folhas, o portão. Tudo perde a cor. E quando isso entra em contraste com o céu ainda não totalmente escuro, a pretidão de tudo fica mais evidente.

Daí eu inventei (eu acho) uma brincadeira.

Coloquei o cabo de limpeza da piscina no chão, mas podia ser uma corda, uma linha de giz, qualquer coisa que demarcasse o aqui e o lá.

Eu fiquei de um lado e ele do outro. Um não podia pisar no lado do outro enquanto ele ainda estivesse lá. A gente tinha que adivinhar quando o outro ía se mover. E ele entendeu direitinho porque ele ficou dando pulo e fingindo que viria pro meu lado.

Será que existe essa brincadeira?

Ah existe. Viver.