Estranho por estranho
Não consigo imaginar uma vida sem paixão. Quando leio esta frase algo me incomoda no íntimo: o estranho, aquilo que não sou. Porque, com certeza, não definiria a mim como alguém apaixonado. Não: tais intensidades não me pertencem. Tenho uma alma com tendência contemplativa e sonhadora. Penso, penso demais. Não, fria não, não em geral. Creio que um pouco mais racional que a média feminina. Acho até que estou mais emotiva do que sempre fui. Mais capaz de me conectar as pessoas. Não gostaria de perder isso com as dificuldades da vida. Sim, está estressante e não sei o que fazer. Não sei onde alocar o que acontece. Temo um retorno à depressão mais do que tudo - tempos sombrios.
Identifico-me muito com Bernardo Soares no Livro do Desassossego: "não agir dá-nos tudo... temos o que abdicamos, porque o conservamos sonhado". Outra, oportuna, que gosto: "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro." Um pouco exagerado, em termos práticos, porque entendo que ninguém seja tão leve que não deixe pegadas na areia.
Recebo um papel e me parece que não me encaixo na atuação que de mim é esperada.