Prazeres vivos

Morri diversas vezes, achei-me no vento e encontrei um lar naquelas constelações em que olhávamos e desejávamos ver mais de perto, como um olhar sincero de um doente mental. Por mais cheiros, mais prazeres momentâneos, aqueles que nos fazem chorar mais um pouco antes de dormir. Vivendo e morrendo aos poucos, percebe-se que a morte está na vida, mas não há certeza de que ela está na morte. A certeza foi anulada, a busca enfim cessou, minha criança foi encontrada morta hoje, achada por mim. Furacões silenciosos, como formigas que trabalham sobre a ilusão de um forte vento que não existe. Parafrasear, literaturas, escrivães solitários e pensadores depressivos, carrego a culpa em uma mala e a coragem no bolso. Viver entre as nuvens como uma viagem de caminhoneiro, como as luzes de uma lamparina e desejar comer como grávida. Tantas palavras inúteis, inutilizadas e sem serventia, representa a nossa voz, a minha rouca e a sua ríspida. Aliás, eu estou pensando depois do sexo, quando se faz isso, tudo perde a graça, pois eu já sei como senti-lo sem precisar telo. Divino e semeando, como partilhamos água, crescendo como pagãos, sangrando como inocentes e travando guerras sem fim e tempo para acabar. A guerra está nos homens, no coração, na fúria e no amor, esse amor causador de todas as coisas, até das ruins.

Ágatha Ternurie
Enviado por Ágatha Ternurie em 18/10/2024
Código do texto: T8176762
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