A infância nordestina
O céu estava sempre azul, com nuvens que mais pareciam desenhos, essa era minha visão de criança, que era melhor ainda, porque nasci e fui criado no nordeste, em uma cidade tipicamente do interior. Lembro os dias de feira, eu ia com meu pai passear por entre as bancas e achava aquilo fantástico, afinal, a cada esquina ele tinha um conhecido. Em algumas ruas, havia lugares para que os caminhões ficassem estacionados. Esses são chamados de pau de arara. Enquanto eu lanchava em uma bodega próxima, observava o movimento frenético das pessoas fazendo compras. Elas tinham pressa porque o carro tinha um horário para sair e não poderiam perdê-lo.
Mais adiante, as roseiras da fazenda Jurema deixavam o chão da ponte todo colorido e a água barrenta fazia um barulho forte quando batia nas pedras. Eu me sentava na bicicleta enquanto meu pai pedalava por uma estrada de terra que levava ao povoado onde minha avó residia. Lá sempre tinha um doce de mamão pronto, esse era feito no fogão a lenha que fazia fumaça a tarde inteira quando tinha preparo no tacho.
Voltava da casa dela pela mesma estrada e o sol estava se pondo, deixando um clarão em meio ao céu laranja. Ao fundo, a cerca de sabiás cobria aquele pequeno círculo, que de tão longe parecia branco. Na minha casa, eu chegava tarde da noite para comer a comida da minha mãe. Depois, eu ia assistir televisão, não tínhamos acesso à internet, por isso o tempo parecia ser mais devagar e as pessoas pareciam mais reais.
Aos sábados, levantávamos com os raios do sol entrando pelas brechas do telhado, e um vizinho ouvia as grandes histórias dos violeiros, que encantavam as pessoas pelas caatingas sertanejas. À tarde, outro marco, o cheiro forte da castanha torrada e a fumaça que subia pelo quintal de uma vizinha. Há quanto tempo não via essa cena, como era boa a minha infância! Hoje pude ver uma parte dela, no entanto, precisei acordar, já que as horas haviam passado.