Nunca Corra de Uma Onça

Por Nemilson Vieira de Moraes (*)

Onça-pintada, parda, preta quem não tem medo de uma?...

Nas redondezas rurais de Campos Belos, nordeste goiano, num tempo não tão distante assim, havia onças, com fartura, por aquelas cercanias.

E essas onças de certo modo tirava o sono dos fazendeiros do lugar, pelos constantes prejuízos que elas davam, na comilança de animais, bovinos e outros...

Seu Manoel Paraibano, teve por um tempo o ofício de matador de onças onças. Ganhava uns trocados nessa atividade; num complemento a sua pouca renda.

Cada espécie de onça que capturava, estipulava um montante em dinheiro, a ser pago pelos contratantes da prestação dos serviços.

A onça-suçuarana, era um preço menor, a onça-pintada, um valor mais acima e a onça-preta (a canguçu), superava as outras em valores cobrados.

Só numa região, num pouco espaço de tempo, seu Mané Paraibano, — o maior caçador de onças do lugar; revelou-nos, em roda de conversa, ter sacrificado 36 onças.

Uma vez, foi contratado por um fazendeiro para dar um jeito numa onça-pintada que comia o seu gado. E Manoel Paraibano foi lá e fez o seu trabalho: mostrou as orelhas do felino, fresquinhas (do dia), como prova cabal do combinado.

E não demorou tanto, o mesmo fazendeiro o procurou, nervoso: achava ter sido passado para trás na empreitada e queria o seu dinheiro de volta.

— Seu Mané, o senhor me enganou: não matou a onça que lhe encomendei.

— Porque o senhor tem tanta certeza disso, não lhe mostrei as provas?

— As provas que tenho, seu Mané, é que as minhas criações continuam a morrer nas garras da onça, que o senhor diz ter matado!

— Não senhor, não me venha com essa conversa atrapalhada; conte outra. Na sua fazenda têm mais onças, não era só aquela; se o senhor quiser, me contrate outra vez, e eu irei resolver a questão. E assim, terás mais uns dias de sossego.

— Pois, esteja contratado; e, pode ir hoje mesmo, se quiser.

— Hoje, eu não posso ir: terei que resolver umas pendengas por aqui (em Campos Belos), e como sem falta, amanhã cedo eu vou. Mas, quero adiantar: o preço que irei lhe cobrar, é o mesmo valor que cobrei da última onça. Por se tratar de outra onça-pintada.

Com alguns dias, embrenhado nas densas matas, seu Manoel Paraibano reapareceu às portas do fazendeiro, com as orelhas frescas de mais uma onça-pintada (a que continuava os estragos aos animais do homem). — E recebeu o seu suado dinheirinho.

Um caçador que, quase virou comida da caça...

Ao dar uma pausa nas caçadas de onças, e sair um pouco daquela rotina, seu Manoel, na tarde de um dado dia, passou a mão no facão, três listras, na espingarda e nos cartuchos; carregados com pólvora branca (tupã) e chumbo-d'água (fino), com buchas de embiruçu, saiu a lugares incertos para caçar uns bichos miúdos...

Aos pés de uma serra de pedras, ouviu um piado de mocó e tentava a todo custo, ver algum deles de jeito, para seu tiro certeiro. Um pequeno talo no chão, estalou, na sua retaguarda.

Ao olhar na direção do estalo, viu uma onça-pintada, a rastejar a sua captura, pronta para o bote. E o atacou.

De maneira que, não teve tempo de atirar e nem correr; a saída foi enfrentar a bicha, cara a cara.

A baixo de Deus, venceu a luta e foi salvo, por dois motivos: não correu da onça e maneijou bem seu facão amolado.

Quanto a mim, dei muita sorte de não ter sido comido por uma onça; na vida que levei, de caçador-sem maldade, e noutras ocasiões; algumas, que nem sei.

Meu Deus! Quanta inocência, minha...

Ia eu, de Porto Franco a Barra do Corda, e uma onça-preta que não devia mais crescer, cruzou a estrada de terra e entrou na mata...

O que eu fiz?

Parei o fusquinha e o estacionei a margem da via; desci do veículo, sem nem um canivete, com a única finalidade de ver o tamanho das suas pegadas, na terra fofa do chão e onde se meteu na mataria.

E se essa onça volta e pula em mim? Adeus Filhinho de seu Natã, pra nunca mais!

Embora o homem não faça parte da sua cadeia alimentar, pois os filhotes de onça não aprendem com os pais, capturar esse tipo de presas. Não há de se confiar e, todo cuidado é pouco com esse felino feroz, o maior da América.

Conheci outras pessoas que não correram de onças; foram ao enfrentamento com ela: um, recebeu 600 pontos cirúrgicos; outro, 1.118. Apesar dos estragos, sobreviveram, para contarem a história.

No caso de ser atacado (a) por uma fera dessas, é melhor confrontá-la do que, dá-lhes às costas. Senão houver a chance de sair com vida, pelo menos vai demorar mais um pouco, o pior acontecer.

Não morra de graça! Lute.

Nemilson Vieira de Moraes,

Acadêmico da ANELCA/ALB

(24:09:24)

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 22/09/2024
Reeditado em 23/09/2024
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