Meus Pais, minha vida...Oh que saudades!

©AFDupré. 22/03/2015 2015

Oh meu querido e saudoso pai! Oh minha mãe que não sai do meu coração. Queria, Isaurinha, que você morresse nos meus braços, mas não foi assim que Deus quis!

Queridos pais, eu os amarei eternamente e tenho a certeza de que estaremos novamente juntos! Quando? O tempo dirá. O tempo universal é imensurável! O livre arbítrio é, ademais, imprevisível!

Oh minha infância, minha adolescência. Mãezinha severa, - dona de casa - vigilante. Horário de recolher, pontualmente as 20;00 horas. Exceção: para os dias de festinhas de aniversário na juventude, às 22;00 horas. Se descumpríssemos, porta trancada e... Castigo! Saudades das brincadeiras infantis de rua, onde se podia conviver com os amigos e amigas sem os perigos de hoje. (carniça, pique bandeira, pique cola, pique esconde, bola de gude, pipa, roda, cabra-cega, berlinda, futebol tipo linha de passe, histórias de fantasmas - que me assustavam na hora de voltar para casa – e outras tantas que a fraca memória não me deixa evocar!

Meus pais não eram letrados. Sabiam, porém, exigir o cumprimento dos deveres de casa que as professoras da Escola Bolívar 11-9 passavam. Praxe das escolas naquela época dos anos 40.

Queriam que eu e meu irmão estudássemos, para ser “alguém na vida” e não puxadores de carroça. Assim diziam!

Havia, também, os deveres de casa propriamente ditos, quais sejam, lavar área, louça, latrina, encerar o assoalho e passar o “escovão” para dar brilho, lavar carro do pai, engraxar sapatos, etc, etc. Isto feito, na juventude, fazíamos jus a uma pequena, diria mesmo, simbólica mesada. Mal dava para pagar a “gafieira” na juventude (depois dos 18 é claro!).

Me lembro ainda que, nos meus tempos de quartel –único de família que prestou serviço militar -, lavava e engomava meu fardamento, que ótimas lições de vida!

Salathiel, pai guerreiro – taxista - órfão de pai que sequer conheceu e de mãe em tenra idade. Para os íntimos, Tiel, Tié, Tielzinho, e para os netos, “Tielzinho meu gotoso”. Criado pelos tios

Naqueles tempos era habitual as famílias dividirem a mesma casa. Assim era conosco na Rua Benício de Abreu 144 Eng. de Dentro. Avós pais, irmãos, tios tias, primos, primas... Suítes, nem se sabia o que era. Havia um banheiro no corredor e uma “casinha” nos fundos do quintal.

Para obter renda extra, a família se reunia em torno de uma mesa grande e ali desenvolvia seus trabalhos coletivamente: dobra de bulas e montagem de caixas de remédios para laboratórios farmacêuticos, ganhando um valor irrisório por milheiro feito. Quem melhorasse de vida, ia para sua própria casa – alugada ou comprada. Assim foi conosco.

Depois de nos mudarmos para Rua José dos Reis, 584 casa 11, conseguiram meus pais, comprar imóvel. Graças ao fato de minha querida mãezinha poupadora, esconder todo mês um dinheirinho do Tié, taxista gastador e sonhador – vivia sonhando em abrir um borracheiro ou outro qualquer negócio -. Assim, fomos morar em uma casa própria em uma vila na Av João Ribeiro, Cavalcanti.

Havia uma determinação paterna que quem trabalhasse deveria contribuir com as despesas da casa, dando uma mesada.

Cedo comecei a labutar e a ganhar dinheiro, como se dizia, com o suor do próprio corpo, vendendo junto com outros membros da família joias de fantasia que meu tio Peti , contador– pai do Edson – obtinha de clientes dele e nos fornecia em cartelas. Minha freguesia era nos Correios e Telégrafos na rua 1º, de Março e Ministério do Tralho. Cedo também, aos 16 anos, comecei a trabalhar em emprego fixo que meu tio José, irmão de minha mãe, carteiro solteirão, conseguiu. Demonstrador de máquina de costura elétrica “Elna” – pregava botões e fazia caseados - em uma loja na rua 20 de abril. Fazia também, junto com meu irmão, cobranças de inadimplentes morador es em favelas, mediante o recebimento de uma comissão. A revendora de máquinas andava ruim de finanças. Meu último salário foi a escrivaninha com tampa de correr do “patrão” e sua cadeira giratória. Não havia dinheiro para me pagar e ele deixou escolher o que quisesse. Aquele mobiliário era o máximo! Lembro que dividi por muito tempo parte das gavetas com meu irmão para guardarmos nossos objetos.

Assim foi. A herança que meus pais me deixaram foi "estudar, trabalhar, poupar". Assim foi... Oh que saudades...

AFDupré
Enviado por AFDupré em 20/09/2024
Código do texto: T8155934
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