Saudade que Aconchega
Às vezes os olhos umedecem,
A lembrança surge lá do fundo.
Os outros até que se esquecem,
Mas, em mim, há um lamento profundo.
O quintal com cerca quase inexistente,
As árvores de frutas que matavam a fome.
As brincadeiras na rua, como gente inocente,
Os bailes nas salas... Aahh nem sei mais seu nome.
Às seis horas, o momento da Ave Maria,
Mamãe, meus irmãos e eu, fé e devoção.
Era no terço, a reza que nos protegia,
E a noite tinha histórias de assombração.
No jardim improvisado, tinha ervas e flores,
Com tanto carinho que mamãe cuidava.
E eu, curioso com todas as cores,
O nome das plantas e flores perguntava.
De dia, eu brincava sozinho,
Com os brinquedos que mamãe trazia.
No imenso quintal, meu reino,
Riscava no chão minha cidade vazia.
Cresci feliz, brincando e sendo amado,
Mamãe nunca deixou que nada faltasse.
Acho que agora eu sinto aqui do lado
A dor no peito, se a saudade falasse.
As mães deveriam ser eternas,
A gente nunca as deixa partir.
As tardes sem ela são sempre cinzentas,
Por mais que as lembranças me façam sorrir.