Um professor fora da curva

No ano de 2009, graças ao professor Francisco Piolho e ao professor Edmilson Lopes Jr. fui pagar uma disciplina como aluno especial no mestrado de Ciências Sociais, na UFRN, em Natal (RN).

Em Mossoró (RN), o departamento do curso de Ciências Sociais da UERN ainda não tinha criado o mestrado que existe atualmente.

Eram 4 horas de viagem de Mossoró a Natal na segunda-feira. Chegava na sala sem muita energia.

Mas quem estava a frente de tudo era o renomado professor Doutor Edmilson Lopes Jr.

Falarei em outro momento dessa disciplina, mas antes preciso abrir espaço para a "história" desse ser humano muito significativo para todos que o conhecem.

Eu achava que tinha superado tudo e que ninguém tivesse superado uma realidade como a minha.

De cara, encontro Edmilson. Que nos narra sua história nos primeiros encontros.

Edmilson, ou "tio Ed", como vem se autointitulando, nasceu na cidade de Apodi (RN). Trabalhou no roça até os 14 anos de idade para só então iniciar os estudos, quando o normal é começar estudar aos 7 anos.

Sentar na cadeira de sala de aula já era difícil para ele, pois a coluna já tinha sofrido danos com o trabalho duro na infância.

Depois de passar pelas séries estudando e se dedicando, conseguiu passar no vestibular de Ciências Sociais da UFRN de Natal. Faz o curso nos 4 anos e ao finalizar não encontra mercado de trabalho ou oportunidade para fazer um mestrado.

Volta para Apodi e começa a trabalhar em um projeto social de acampamentos. Mas com um olho no Mestrado.

Eis que com uma "sacada de gênio", ele ganha uma bolsa de estudos da Ford. Essa bolsa é distruída principalmente, para estudantes que atuam em movimentos sociais.

"Tio Ed", desta forma, daria continuidade a sua jornada de estudos para a sua formação. Foi fazer seu mestrado em Porto Alegre(RS). Claro que em alguns aspectos foi excelente, mas em outros ficou a desejar.

Entre os que ficaram a desejar foi o que ele era chamado por seus “parças” de sala de aula de “aborto do Nordeste”. Além disso, mesmo sendo o primeiro estudante a utilizar um computador na sua época, os alunos não reconheciam sua inteligência, seu pionerismo.

Nos relatava que mesmo assim não desanimava. Qualquer dúvida, se dirigia diretamente aos professores que tinham um comportamento profissional, que reconheciam o esforço que ele fazia para acompanhar e dar o melhor de si para obter êxito e o título de mestre.

Depois disso, foi para Campinas (SP), onde fez seu Doutorado.

Ele retorna para ensinar em Mossoró, com muitas ideias para implementar. Porém, a universidade o chamou e disse: “Não temos dinheiro para seus projetos”.

A UFRN, no entanto, já sabia que "tio Ed", com toda a sua bagagem intelectual, estava na área. E imediatamente o contrata, quitando qualquer dívida que ele pudesse ter com a UERN.

Na sala de aula encontrei um ser humano realizado. Que de uma notícia que escutava no rádio enquanto vinha para a sala de aula, tinha repertório para fazer uma reflexão profunda e dar uma aula de maneira brilhante.

Os alunos que ele acompanhava, faziam teses relacionadas a segurança e a violência. Pessoas desaparecidas, valores de dinheiro ganho por empresários de grandes jogadores. Ou seja, "batata quente", que exigia muito jogo de cintura.

Eu tentava ajudar de alguma forma. Ele vendo meu esforço me “escalou” para duas pesquisas. A primeira foi com Quilombolas, que vivem próximos a cidade de Baraúna (RN).

O objetivo da pesquisa era saber se os negros sentiam algum tipo de diferença no atendimento ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A segunda, foi com mototáxis e usuários de mototáxis. Entre outras coisas para saber algumas questões dos mototáxis e dos usuários desse tipo de serviço, uma "febre" naqueles dias.

Foram duas experiências que me coloquei a disposição para fazer e tive que falar com as pessoas e ir a vários locais. Conversando e entrevistando. Colocava a camisa da CNPq e saia para onde estavam os alvos da pesquisa.

Paguei a disciplina, mas por razões externas e que estavam além do meu esforço, não pude completar o mestrado. Mas foi uma experiência que jamais imaginei ter.

A ideia de possuir uma Hilux, por exemplo, nunca fez parte do imaginário de "tio Ed". Isso o tornava “gigante” perante a visão de todos os alun@s.

Tive um surto. E discutimos por razões que poderiam ter sido contornadas. Eu estava errado e queria jogar a culpa do meu erro em outra pessoa.

Hoje, ao menos somos amigos virtuais. O respeito e a admiração continuam os mesmos.

Pró-reitor na UFRN, em Natal, ele segue sua jornada vitoriosa. Como dizem hoje, Edmilson Lopes Jr. é um professor “fora da curva”. Pensamento aberto, alegria contagiante. Peço perdão para ele se deixei de mencionar algo que ele consideraria importante frizar nessas linhas.

Vez por outra ele vem fazer alguma palestra na UERN. Se tiverem a oportunidade, não percam. Vale a pena.

Canindé Neres
Enviado por Canindé Neres em 16/09/2024
Reeditado em 16/09/2024
Código do texto: T8152642
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