Viagens na infância e adolescência
As viagens na infância e na adolescência foram diversas. Sentia-me realizado. Menos na primeira vez.
A primeira delas não sei dizer a idade. Mas lembro que nas férias fui visitar meus avós paternos, em São Rafael (RN). Minha irmã me acompanhou. Eu era ainda muito novo.
Ela me deixou na casa de minha avó, mas como abri o "berrante" e ninguém conseguiu me consolar, no outro dia ela foi me buscar.
A segunda viagem foi para a capital potiguar: Natal. Fomos para a casa de uma sobrinha de minha mãe, chamada Bilia. Ela é mãe de dois primos: Sílvio e Cristina. Moravam no bairro Neópoles. Com eles fui a primeira vez a praia.
Ver o mar de Ponta Negra, no início da década de 80 foi encantador. Poluição era rara. O morro do Careca era permitido subir. Ninguém tinha consciência ecológica para saber que a subida e descida de pessoas iria prejudicar sua estrutura no futuro.
Passei a ser acólito na igreja São José, em Mossoró. Pe. Guido Tonelotto sempre fazia pequenas viagens com aqueles mais próximos. Com aqueles que interagiam mais com ele e ajudavam na manutenção da limpeza e outras atividades da instituição.
Martins (RN) e a Serra do Lima (RN), era os principais destinos. Conhecer esses lugares, para nós, era prazeroso. A começar da viagem em si, em todo o trajeto, principalmente, na subida das serras desses locais, com temperaturas amenas. Diferente das temperaturas da nossa cidade.
Devido a sua permanência por algum tempo em Martins e sua formação em História e Geografia, nos falava das formações rochosas daquela cidade com maestria.
Lembro que em Martins, era Pe. Walter Collini, amigo pessoal de Pe. Guido que sempre nos recebia com alegria. Bem como as irmãs daquele lugar.
O Santuário da Serra do Lima, foi o primeiro monumento arquitetônico que conheci, sem comparar os que existiam aqui. Sempre íamos pela manhã cedo e retornavamos na tarde.
SERTÃO
Com dez anos, 1984, eu, minha mãe Tiquinha (Francisca), tia Ibrantina Felipe (in memoriam) e seu esposo Dedé (José Fernandes) (in memoriam), fomos visitar nossa familiares que ainda moravam nas terras que foram cobertas pelas águas da barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
Primeiro fomos ao sítio Itans (que ainda existe), onde tia Bibi (in memoriam) passava alguns dias. Tinha chovido no inverno. Tudo estava verde. Chegando no Itans vi a beleza daquele lugar. Açude cheio, vacas gordas e a produção artesanal de queijo. Ela estava contente em receber minha mãe e minha tia.
No outro dia, avançamos mais e fomos visitar tio Dedé (José Felipe) (in memoriam) e toda sua família: esposa e filh@s. Conhecido por ser muito tranquilo e carinhoso com todos.
Foram dias de muitas alegrias. A água da barragem estava na frente da casa, a poucos metros. De manhã todos tomaram banho, conversando muito. Com o braço fraturado e no gesso eu não pude aproveitar mais. Para retornar, lembro de ter andado de jumento com uma prima. Foi uma viagem que todos mataram as saudades.
CAPITAL DE PERNAMBUCO
Em 1987, Pe. Guido precisou ir a Recife. A viagem de ônibus o deixava cansado e sem ninguém para conversar. Convidou eu, Nilton César e Sérgio. Era um presente para quem estava sempre servindo de alguma maneira. Também tinha outros, mas não podiam se ausentar ou não dava para levar todos. Não dormi pensando na viagem que aconteceria. A imaginação não alcançava o que estava por vir.
Saímos cedo com ele guiando o carro e intercalando o volante com Nilton. Eu, nessas viagens ficava em silêncio. E ele me questionava porque falava tanto quando estava na paróquia e era calado nesses momentos. Não tinha resposta. Aliás, tinha. Mas elas ficavam guardadas.
Paramos em Nísia Floresta. Na época, o restaurante que servia o melhor camarão da região. A Mata Atlântica ainda existia. Parecia um sonho.
Seguimos viagem. Chegando na cidade de Recife senti um impacto devido ao tamanho da cidade, ao trânsito, quantidade de carros e a infraestrutura. Fomos para o apartamento de Dona Laudelina (in memoriam), que conheceu Pe. Guido quando ele foi o primeiro diretor do Colégio Salesiano Pe. Rinaldi, de Carpina (PE).
CINEMA
Fomos acolhidos por Dona Laudelina e descansamos. De noite fui pela primeira vez assistir a um filme no cinema com eles. O Predador, com Arnold Schwarzenegger. O filme eu não entendi. Tudo era novo e diferente.
No segundo dia, Pe. Guido precisou sair e disse que a gente poderia dar uma volta no centro já que o prédio do apartamento ficava próximo ao cinema São Luís e nos encontraria em determinsdo lugar.
Fomos andando em busca do local combinado. Mas já estávamos nos sentindo perdidos. Nilton, resolve pedir informação a um camelô.
O rapaz jovem faz que vai usar a mão para mostrar a direção e rapidamente arranca-lhe o relógio. Nilton fixa seu olhar sem saber o que está acontecendo e Sérgio tira a corrente do pescoço e a carteira do bolso coloca na cueca, puxando Nilton para sair de onde estávamos. Nilton na esperança que o camelô lhe devolvesse o que ele tinha pego.
Enquanto que o camelô dizia: "corre, corre...". Corremos todos. Não sabíamos mas em que parte do centro estávamos.Não tinha polícia, "ariados", desolados. Tínhamos combinado encontrar com Pe. Guido em algum lugar. Não sabíamos mais onde, por instantes longos. Depois de nos acalmar e respirar conseguimos o encontrar.
Foi um ato violento que não estávamos acostumados a enfrentar. Sentimos na pele o que só ouvíamos dizer pela TV
Depois de saber do ocorrido, o padre ficou comovido com nossa experiência. Passamos por onde tinha ocorrido o fato, mas sem esperança. O camelô não seria ingênuo como nós. Ele por fim, nos levou a uma loja e deu um relógio para cada.
A semana passou rápido e retornamos para Mossoró, com muita coisa para dizer.
"Omnia rara cara".