Depois da viagem, um sonho e o resultado

Chegando em Natal, fiquei pouco tempo parado. Tinha feito alguns curso de informática no SENAC de Mossoró e fiz outro no SENAC de Natal. Depois de entregar meu curriculum em vários locais e agência de emprego, fui chamado para trabalhar em um restaurante na praia de Ponta Negra. O dono se chamava senhor Péricles.

Minha função era fiscalizar vários ambientes do restaurante. Cozinha, bar, câmera de gelo e outros. Passei pouco tempo nessa função. Não lembro a razão. Tinha que ter muito jogo de cintura, uma vez que nunca tinha trabalhado no ramo e a frente de outras pessoas.

O restaurante ficava na avenida principal e como ainda não havia prédios altos, dava para ver a orla do mar. Quando sai de lá, fui vender bilhetes do “Papa-tudo por Dinheiro”. Era somente aos domingos, onde tinha que escanear centenas de bilhetes que eram vendidos durante a semana.

Depois disso, fiquei sem trabalhar um pouco e fui vender amendoin e salgados na praia. Alguém vender amendoin e salgados na praia é algo que o vazio existencial se apresenta cada vez mais forte, principalmente quando você via que tinha vendido poucos ou nenhum. Até mesmo em dia de chuva, tive que trabalhar para tentar ganhar um pouco de dinheiro.

Certo dia tive um sonho com o meu cunhado, Sales, me dando uma notícia muito boa. Quando arcordei, minha irmã tinha ido atender o telefone. A chamada era para mim e quando fui atender, era meu cunhado me dizendo que eu tinha passado no vestibular para o curso de Letras, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Todos, a príncipio, esperavam que eu retornasse para Mossoró, mas soube através de amigos que existia um convênio entre a UERN e a UFRN, para quando um aluno que morasse em Natal passasse no vestibular em Mossoró, pela UERN, esse convênio dava direito para que o aluno pudesse frequentar o curso pela UFRN em Natal.

Sendo assim, através disso, requisitei para que pudesse frequentar o curso em Natal, na UFRN. A UFRN sempre esteve muito adiante em termos de estrutura e corpo docente em relação a UERN, de Mossoró.

As dificuldades, no início foram grandes. Uma delas, foi que estava estabelecido que eu só poderia “pagar” três disciplinas e não cinco, como era natural. Isso já me deixava disnivelado em relação aos outros alunos do curso.

Minha imaturidade era grande. Começaram as aulas. Uma turma com pessoas bastante maduras. Eu me sentia a criança. Devido algumas atitudes. Mas aos poucos fui desenvolvendo.

Levei certo dia, meu curriculum para a livraria do centro de convivência da UFRN. Lá tinha um setor onde se tira xerox.

Pouco tempo depois, lá estava eu trabalhando. Desta forma, conheci muitos professores e alunos da UFRN, que iam fazer suas xerox, na livraria.

Sempre tive a preocupação com minha saúde mental. Descobri na UFRN que o curso de Psicologia tem o setor onde os alunos de Psicologia atendia aos alunos e a comunidade, chamado CEPA (Centro Especializado em Psicologia Aplicada). Porém, nunca encontrava vaga. O valor era simbólico.

Certo, vejo um professor que chega e conversa comigo. Pergunto aos amigos que trabalhavam como, quem era. Me informaram que era o responsável pelo curso de Psicologia da universidade. Professor José Edson. Disse para ele do meu desejo em fazer um acompanhamento no CEPA e da dificuldade que estava sendo em encontrar uma vaga. Ele pediu meu nome. Tive esperança. Pouco tempo depois começava a fazer sessões.

Uma vez por semana. Todas segunda-feiras. A doutora escutava e as vezes me fazia alguma pergunta. Doutora Elizabeth. Pessoa fina, porém, não tivemos a oportunidade de ter qualquer tipo de convivío.

Através disso, do curso e do trabalho as mudanças começaram a ocorrer. Trabalhava de dia e cursava Letras no horário noturno.

Nesse período, tentatava de todas as formas, conseguir uma bolsa alimentação no restaurante universitário, como o reitor daquela instituição. Porém, o que passava não foi o suficiente para ele encontrar uma possibilidade. Tinha uma discussão séria com ele na sele dele.

As saudades de minha mãe, sempre foram enormes. Quando vinha visitá-la nos feriados ou fins de semana, aquilo me enchia de energia positiva.

Decidi ir morar em uma pensão, no bairro próximo a maternidade Januário Cicco, em Petropólis. O ambiente era agradável, mas o bolso ficava a maior parte do tempo vazio. Tudo me levava a deixar de estudar e abandonar o curso. Fui, então morar com minhas primas, na zona norte de Natal. Eram pessoas maravilhosas. Fransquinha (in memorian), Conscita (in memorian), sempre zelavam muito minha pessoa, assim como minha irmã, mas vi que tinha que seguir por outros caminhos e elas, minhas primas, me acolheram.

Foi um período onde estive mais conectado com o restante da família. Pois eles, dificilmente nos visitam em Mossoró.

Nas férias, vim para Mossoró. Chegando aqui depos de alguns dias, fui visitar o jornal O Mossoroense. Chegando lá, encontrei o jornalista Crispiniano Neto. Ele me chamou e perguntou: Canindé, o que você está fazendo em Natal e quanto está ganhando? Eu falei o que estava ganhando e qual era o valor. Ele disse então: “Eu pago o dobro que você está ganhando para vir trabalhar comigo”. Não tive como rejeitar a proposta.

Preparei todas minhas coisas e retornei para Mossoró. Cuidei da documentação do curso e logo estava cursando Letras em Mossoró. Porém, me sentia deslocado. Quando o professor nos apresentava uma obra literária eu me apegava logo aos aspectos sociais. Um dia uma amiga chegou para mim e disse: “Por que você não tenta Ciências Socias?”. Tentei.

O vestibular foi no dia em que meu tio mais presente faleceu. João Felipe de Mendonça (in memorian), fez sua viagem para outro plano espiritual. E também no dia do meu aniversário. Lembro que chorei copiosamente, sem conseguir fazer a redação. Não esperava passar devido as circunstâncias.

No entanto, o resutado foi surpreendente. Minha irmã Mara Rúbia me liga, me parabenizando. Uma vez que devido a minha classificação, meu nome chegou a ser lido pelo reitor da UERN na época, Dr. Milton Marques (in memorian). Minha alegria foi contagiante.

"Deus est solus scrutator cordium".

Canindé Neres
Enviado por Canindé Neres em 10/09/2024
Reeditado em 10/09/2024
Código do texto: T8148539
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