Mudança para Natal
No início do ano de 1999, depois de algumas experiências profissionais, decidi ir tentar a vida na capital do Rio Grande do Norte, Natal. Na bagagem, devido a idade, a esperança ocupava mais espaço. Ia morar com minha irmã mais nova, Francisca.
Na viagem de ida, fui em um carro que faz linha para Mossoró - Natal. 4 horas de viagem. 280 km de distância. Tudo corria bem. Ar condicionado, ainda não era tão acessível. Então o motorista deixou a janela aberta o que alterou minha respiração. Fiquei aos poucos sufocando.
Os passageiros e motoristas conversavam e tentei interagir. Ao fazer isso, senti algo errado. A risada saiu de forma que não era natural. Rápido disse ao motorista: "Epilepsia." Não lembro do restante da viagem.
Só lembro que mesmo indo para um destino onde primeiro desceria, o motorista me levou para a Rodoviária de Natal, depois de levar todos os outros passageiros a seus destinos. Chegando lá ele tentou interagir comigo. Eu, continuava a rir. Lembro dele me dizendo: "Eu sei para onde vou lhe levar." E apaguei.
Ao acordar, estava em um hospital. Pernas amarradas. Olhei em volta e vi outros pacientes. Falei com uma enfermeira. Ela me disse que a médica viria falar comigo. A doutora veio, cara fechada. Perguntou se eu consumia droga. Disse que não e que era epilético. Pedi para me dessamarrar os pés, pois o que prendia estava machucando. Não deram ouvidos.
Como me sentia revigorado, dessamarrei e saí do pronto socorro do Walfredo Gurgel. Fui telefonar para minha irmã Mara Rúbia. Quando relatava o que tinha acontecido, pois o motorista tinha "ficado" com meus documentos e bagagem.
Quando estou telefonando no orelhão, o motorista do carro chega, para minha felicidade, com malas e documentos. Entrei no carro e no caminho para a casa da minha irmã ele explicou o que tinha ocorrido. Ele também sentiu alívio, porque de certa forma, eu estava sob responsabilidade dele.
Enfim, chegamos em paz na casa de minha irmã. Agradeci bastante ao motorista que se tornou um amigo, pois foi uma ação generosa. Começava assim um novo ciclo.
"Amicus certus in re incerta cernitur."