Minha curta vida "lá im nóiz"

Está circulando um post no feicibúqui, mostrando uma jovem que teria começado a trabalhar na TV aos 3 anos de idade. Trabalho infantil na TV, pode, a propósito. E está "chovendo" de comentários de toda sorte. Confesso que um deles, feito por uma jovem senhora urbana, me incomodou. Dirigindo-se a outro participante, ela escreveu (textualmente):

"(...), mas gente. Que coisa!

Povo sempre alfinetando. Você conhece alguém que começou a trabalhar na roça com 3 anos de idade??

Eu conheci um monte que a mãe levava para roça quando ela ia trabalhar. Mas começou a trabalhar aos três anos de idade na roça, não conheço nenhum."

Então eu me lembrei de minha infância, entre 1967 e 1970 (pós Copa do Mundo do México), em Caiçara dos Barbosa, terras de meus antepassados (oriundos da Serra do Baturité, no estado do Ceará, e portanto sou descendente de cearenses, pelo lado materno) desde fins do século XVIII, e que hoje fazem parte dos municípios de Ruy Barbosa e de Barcelona. Na verdade só as terras de meu avô, o velho Luiz Barbosa de Moura (1895-1987), ficaram do lado de Barcelona, no estado do Rio Grande Sem Norte. Pois bem, então tive que escrever o seguinte, para aquela senhora:

"(...), desculpe, sinceramente não entendi sua colocação... É que não "bate" com a realidade que conheci em minha infância (não comecei aos 3 anos, mas aos 6, guiando um cavalo que arava a terra puxando uma campinadeira). Fiz outras coisas: cavei covas no chão para plantar milho, feijão, algodão, melancia, batata no rio, carreguei água num jumento. Colhi algodão, milho, fava, feijão, "pastorei" (para bichos não mexer) o feijão secando ao sol sobre uma lona, debulhei feijão, carreguei lenha sobre um jumento, dei banho em cavalos, entre outras atividades da vida no Sertão. Seus comentários, querida, serão sempre importantes, mas pelamordideus, faça isso com conhecimento e sabedoria.

💐🌵

Depois me lembrei de um acontecido em nossa família, e partícipei àquela senhora com jeitão de "Patricinha":

"(...), esqueci de lhe contar: tenho um primo, que não vejo há mais de 40 anos, cujo nome é José... Aqui no Nordeste temos milhões de José. Mas o detalhe sobre ele é que Maria Zuleide, sua mãe, estava sozinha no roçado quando começou a sentir as fortes dores do parto. Meu tio "Chico de Luiz" estava viajando, comercializando animais - coisa pouca, só dava para sobreviver. Pois bem, ela levou um pote com água que apanhou de uma cacimba, e pariu José embaixo de um juazeiro frondoso onde havia se deitado. Ela mesma cortou o cordão umbilical, lavou a criança, se lavou e subiu uma ribanceira da margem do rio ("Potengi pequeno", que deságua no rio Potengi já no município de São Paulo do Potengi), em direção à sua casa. Não é cena de novela, nem de filme, é fato! Como Maria Zuleide há muitas outras nordestinas que passaram por isso. Creio que ela agora está na casa dos 80 anos, mantendo um sorriso numa cara sofrida que JAMAIS recebeu qualquer tipo de maquiagem. E José é um homão com 1,75m.

🌵

chico potengy
Enviado por chico potengy em 27/08/2024
Reeditado em 27/08/2024
Código do texto: T8138159
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.