Cidreira 2024

Quando veio a enchente de maio de 2024, fugimos de Porto Alegre para Cidreira, e passamos o mês inteiro. Fazia anos que eu não ia veranear (ou, no caso, outonar) (ou, ainda, refugiar, como foi o caso).

Em Porto Alegre, a água atingiu todo o nosso bairro Santa Maria Goretti. E foi bem rápido. Entre o antes e o depois do almoço de domingo, alcançou a nossa rua em toda a sua extensão. A Sertório já estava toda tomada, e a previsão era que a nossa rua seria inundada caso o nível do Guaíba chegasse ao patamar histórico de 1941. Foi o que aconteceu, com sobra!

Quando percebemos isso, logo nos apressamos para reunir mochilas, roupas, tralhas, cachorra, comida da geladeira e dos armários, e colocar no carro, enquanto ainda era possível embarcar. E nos tocamos para a única saída da cidade que ainda estava livre: a RS-040 por Viamão.

No caminho, vimos o pôr-do-sol nos cataventos, uma bela recepção de boas-vindas. Chegamos a Cidreira à noitinha. Nós seis nos estabelecemos no apartamentinho, e desfrutamos de conforto: água encanada, energia elétrica, chuveiro quente, sinal de celular, e até internet. Passávamos os dias ligados nas notícias das regiões afetadas. Ajudamos com pix para todos os nossos conhecidos, nos unindo à grande mobilização de auxílio às vítimas da enchente.

Meu local de trabalho no Centro de Porto Alegre ficou inundado a 1,80m. Colegas heroicos da equipe de infraestrutura de T.I. trabalharam para restabelecer os links de acesso aos servidores de backup. Então, sem prejuízo nenhum, trabalhei normalmente na modalidade home-office em Cidreira.

Todo dia, podíamos ver o nascer do sol da nossa janela. Coisa mais linda, energizante até! À noite, relembrávamos a adolescência, na ida de turma ao centrinho, e o sabor dos "kreps". Nos esbaldamos na gastronomia inigualável dos buffets de sorvete.

Mas quem mais gostou da mudança foi a Cacau. Levávamos ela para passear na beira da praia todas as manhãs. Ela curtiu intensamente a liberdade de correr por toda a praia deserta, fuçar e cheirar tudo que via, descobrir cada pedacinho de lixo.

Depois que a situação das chuvas e das inundações se normalizou, ou perto disso, retornamos de Cidreira para Porto Alegre, novamente com o pôr-do-sol nos cataventos. Nossos lares não foram atingidos, então pudemos voltar a viver normalmente, e continuar ajudando quem não teve uma experiência tão suave como a nossa.