Brincando de cabo de guerra
_ Shhh... Silencio, quietos!
Ela pede, implora às inquietas e tagarelas insinuações dos pensamentos
que dominam, e atrevidos escondem as palavras, brincam com suas memórias.
Gargalham, debocham, entristecem, confundem.
Eles, os pensamentos, a desencorajam e se vangloriam de ter ganhado
mais um cabo de guerra com a adulta. Pois ela, achando ser dona de seu nariz, e dona de si,
deixou trancafiados eles: seus sonhos infantis,
sua felicidade impagável, conquistada com apenas os mergulhos no rio em dia quente de verão,
o saborear da água de chuva que tantas vezes refrescou seu corpo magro e preto.
Ela ainda tonta, confusa, não sabe onde se perdeu, ou sabe?!
Sem saber quem deve ser, procura no fundo a menina que era.
Ela lá, lá no fundo está a sorrir,
dança a ciranda da vida com pés descalços e empoeirados,
cabelos crespos e desalinhados,
embaraçados ao vento, sem vergonha de quem és,
corre para casa somente quando alertada
pelo chamar da avó, que sem opção
se tornou mãe de coração, que
já está na hora da janta.