Reflexos e metamorfoses: a nossa jornada
ONTEM: Olho-te no espelho e vejo um estranho familiar. Um labirinto de reflexos, onde as linhas entre o que sou e o que almejo se confundem. Lembro-me de um tempo em que me escondia atrás de personagens, criando mundos onde a realidade era moldada pelos meus desejos. Felipe, o nome no papel, e Cassulo de Melo, Sofia, Mariana e outros personagens eram as almas que ansiavam por liberdade, eram como dois lados de uma moeda, eternamente em conflito.
HOJE: Mas a vida, cruelmente gentil, me forçou a encarar a realidade. A máscara começou a rachar, revelando as cicatrizes de uma jornada tortuosa. A cada passo, a cada escolha, eu me aproximava e, ao mesmo tempo, me distanciava de mim mesmo. A idade, essa que vou parar de contar a partir de hoje, porque - convenhamos - eu não me sinto na idade que estou, mas como uma testemunha implacável, marca as páginas do meu livro. Cada ruguinha, cada cicatriz, conta uma história de amores perdidos, sonhos adiados e batalhas internas. Mas a alma, incansável, continua a buscar sua própria melodia.
ONTEM: Sabe... eu me perdi em personagens, em narrativas que eram minhas, mas eu precisava de personagens para assumirem essas histórias. Escrevi textos, mas não vivi a minha própria história. A vida, em sua infinita ironia, me transformou numa pessoa que não sabia mais se era real ou ficção.
HOJE: E a fantasia, esse fantasma que me acompanha desde a infância, ainda me assombra. A linha entre o real e o imaginário é tênue, quase inexistente. Sou Felipe, o homem que luta contra as contas e as responsabilidades, e sou o Felipe dos personagens, a alma que sonha com mundos distantes. Sou ambos e nenhum dos dois ao mesmo tempo.
ONTEM: Mas hoje, você vai fazer uma nova idade, algo mudou. A idade, antes um fardo, se tornou um portal. Um portal para um novo universo de possibilidades. Um portal para a aceitação de todas as suas facetas, de todas as suas contradições.
HOJE: Eu sou um ser único e complexo, em constante evolução. A jornada continua, e a cada passo, me descubro um pouco mais. Descubro que preciso ser mais doce comigo mesmo e contigo, meu passado. Descubro que a verdadeira liberdade está em não reprimir os meus sentimentos, por difícil que seja, em detrimento das convenções sociais e da falta de vontade de gastar energia, com todas as minhas luzes e sombras.
ONTEM E HOJE: E assim, sigamos em frente, um labirinto de almas em constante transformação. Um labirinto que, paradoxalmente, nos levará para casa.
** Este texto é referente ao meu aniversário (27/07)