SENTADO

SENTADO

Ficava horas sentado na amurada, contemplando o horizonte e o vai e vem das marés. Pensava e não pensava, mas devaneava. De costas para o mundo, matutava em ondas que sumiam qual suas espumas, desperto pelo ruído que passava pela avenida a beira mar. Durava pouco o despertar, logo já de novo absorto pela grandeza do mar e pela silenciosa passagem de pequenas embarcações. De prático ali nada tirava, mas a paz que sentia era suprema. Quase que diariamente ali ficava, numa solitude sublime, onde tudo era azul qual encontro de céu e mar. As horas corriam mas o tempo não, ficava parado numa linda ilusão, na jovem cabeça que pouco sabia da vida. Há muito esse tempo se foi, a amurada está lá, o horizonte está lá, o mar e o céu estão lá, e eu aqui ainda sonhando em voltar no tempo, tão nítido na memória, tão longe de se tornar novamente história.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 23/07/2024
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