1193-LEITURAS DE UM MENINO CURIOSO-Memórias

Quando entrei para o Grupo Escolar Campos do Amaral, iniciando o curso primário, já era alfabetizado e sabia contar número. Alfabetizado no sentido de conseguir ler e copiar algumas palavras, não tendo ainda capacidade de elaborar e criar frases ou ler um texto com muitas palavras. Já manuseara algumas revistas da pequena biblioteca de Tio Armando e procurava palavras no jornal “A Fanfula”, que chegava diariamente para Tio Gordo. Lia avidamente os números sorteados pela loteria federal, que ocupavam uma pagina inteira de alguns exemplares das quintas-feiras e dos domingos.

Portanto, quando aprendi a ler e a escrever nas aulas de dona Marocas(apelido descabido para uma delicada mulher), minha amada e inesquecível professora do curso primário, a minha curiosidade pelos livros explodiu como uma luz em meu cérebro, despertando uma avidez pela leitura que me acompanhou por toda a vida.

As Aventuras de um Aviãozinho Vermelho é um livro infantil de Érico Veríssimo que li e reli muitas vezes, pois foi realmente o primeiro livro de história infantil que chegou ás minhas mãos, pequenas para sustentar o volume cartonado. Foi um presente de dona Mariquinha, para quem papai reformou muitos móveis.

Na pequena biblioteca do grupo escolar, constituída de livros de histórias infantis, li todos os infantis clássicos: Branca de Neve e os Sete Anões, Joãozinho e Maria e a Bruxa Malvada, Os Três Porquinhos, Chapéuzinho Vermelho e o Lobo Mau, Joãozinho e o Pé de Feijão, A Gata Borralheira, O Gato de Botas e Pinóquio,

E algumas adaptações para as crianças: Robin Hood,

O Guarani, O Principe e o Pobre.

Em casa, lia livros emprestados ou me eram presenteados, pois minha ânsia por leitura despertava admiração e já ia ajuntando livros que formaram a minha primeira biblioteca. Ursão, escrita por Condessa de Ségur foi um presente de Tio Armando; era uma autentica história de terror para crianças, pois um enorme sapo arrastava uma linda garota (ou princesa) para o fundo da lagoa onde ele, o mega-sapo, habitava. Também dessa aurora russa li As Memórias de um Burro, emprestado por minha prima Beatriz.

Alguns livros mais sérios chegaram até mim: Raiar de Um Novo Dia era um livro meio que cientifico, meio que religioso, me foi dado por Totó, empregado no açougue de vizinho de nossa casa.

Dom Quixote Das Crianças, um volume usado, cartonado e sem costaneira, foi outro presente de dona Mariquinha. Foi meu primeiro contato com a obra de Monteiro Lobato, que considero o maior escritor brasileiro, e embora tenha sido cativado por sua maneira gostosa de contar histórias, só mais tarde, aos 16 aos, é que li de novo seus livros – numa crônica que farei baseado nas memórias arquivadas no meu cérebro (gavetinha M-pasta ML).

Os livros de leitura adotados no grupo escolar eram três: Meninice 1º, Meninice 2º. E Meninice 3º. De Luiz Gonzaga Fleury. Eram usados na segunda, terceira e quarta série do curso primário; didáticos, sim, mas com histórias encantadoras, contos, parábolas, sonetos, enfim, um mundo maravilhoso no qual mergulhava a cada ano e nem esperava que a professora, dona Marocas (um apelido feio para uma mulher linda), chegasse ás paginas, no decorrer do ano. Lia as histórias antecipadamente, não agüentava esperar.

Da pequena biblioteca de Tio Armando li os doze primeiros números de Seleções de Reader’s Digest, outros tantas revistas chmadas “Atalaia” e “Vida e Saúde”, mas delas falarei na crônica sobre os livros de Tio Armando (Arquivo de Memórias, gaveta TA).

Naquela época de minha meninice, isto é, entre os seis e onze anos, li também dezenas de gibis e livros em quadrinhos, cujas histórias e aventuras ficaram indeléveis em minha memória e que, proximamente, será objeto de outra crônica.

Ao terminar o curso primário, estava lendo A Volta de Tarzan, volume da biblioteca do grupo escolar, e que iria terminar no ano seguinte, quando ingressei no Ginásio Paraisense e... o meu mundo de leituras virou de cabeça prá baixo ao descobrir os livros de aventuras da Coleção Terramarear, Então foi iniciada uma fase de leituras mais “sérias”, pois já deixava de ser menino, passei a ser estudante e meu gosto pelas leituras passou a ser também mais para a história, geografia e, naturalmente, as aventuras de Tarzan.

Foi como se eu imitasse Tarzan, pulando de galho em galho: pulei de uma arvore onde só tinha o A-E-I-O-U para outras onde havia o Alfabeto completo.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Lagoa Santa (MG), 02 de julho de 2024

Conto(crônica) 1193 da Série Infinitas Histórias

712 palavras

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 02/07/2024
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