A professora
Nas décadas de nossa infância, as professoras se alçavam como ícones a serem venerados. Respeito e admiração por elas caracterizavam a tessitura de nossas vidas. No cenário singelo que nos circundava, a professora do primário ascendia a uma espécie de celebridade, uma fonte de inspiração onde mirávamos com fervor.
As crianças pertencentes às famílias mais abastadas adquiriam botões de rosas para presentear suas professoras, toda quarta-feira, quando a feira local se iluminava com a venda de flores. Já as crianças de recursos mais modestos, atentas aos jardins vizinhos, buscavam uma oportunidade de convencer um vizinho caridoso a colher uma flor, permitindo-lhes brindar a professora com esse gesto humilde.
Num certo dia, minha irmã Nerlí despertou com os primeiros raios de sol, vestiu-se velozmente e partiu com sua desgastada mochila escolar nas costas.
No trajeto, ao passar pelo jardim da casa de nossa tia Terezinha, quedou-se maravilhada por uma rosa cor-de-rosa que desabrochava naquela manhã. Em um impulso, solicitou à minha tia que colhesse a flor, com a intenção de oferecê-la à sua professora predileta, D. Regina.
Avançou com passadas ágeis e cheias de energia em direção à escola. Contudo, optou por esperar o momento propício para adentrar a sala de aula e ofertar a bela rosa a sua mestra. O coração pulsava acelerado, pois não era todo dia que surgia a oportunidade de expressar seu apreço por alguém tão ilustre.
Finalmente, à porta da sala de aula, estendendo os braços fininhos em direção à professora que aguardava os alunos, ela ofereceu a rosa. A professora recebeu o mimo com afeto, porém, tocada pela fragilidade evidente na menina, comentou: "Oh, como você está magrinha, está tudo bem com você?"
Nerlí apenas moveu sua cabeça levemente, buscando transmitir que tudo estava sob controle. No entanto, no interior mais profundo de seu ser, uma mistura de emoções começou a aflorar, como se tivesse decepcionado a sua professora. Afinal, seu desejo era agradar aquela que ela considerava um modelo, alguém a quem admirava profundamente e cuja aprovação queria conquistar.
Naquele momento, teve uma sensação estranha de estar vulnerável diante do olhar crítico, mesmo que não fosse essa a intenção da professora, sentindo-se julgada não apenas por suas ações, mas por sua própria essência, por ser quem era, exatamente do jeito que era.
Entretanto, no turbilhão de sentimentos conflitantes, havia também uma oportunidade de crescimento. Com o tempo, Nerlí começou a compreender que, apesar de sua busca por aprovação, sua jornada pessoal não deveria ser ditada apenas pelas expectativas externas. A professora, alguém que ela admirava tanto, podia ser um guia valioso, mas a verdadeira jornada de autodescoberta deveria ser conduzida por ela mesma.