A nona e o nono
Passar as férias na casa do nono e da nona, na cidade de Jaú, interior de São Paulo, era um momento de grande expectativa para mim e minhas irmãs. Nossa chegada se dava na estação de trem Ayrosa Galvão, de onde seguíamos a pé até a residência deles. O aroma característico da cana-de-açúcar sendo moída na Usina Diamante para a produção de açúcar e etanol já podia ser sentido a longa distância.
Esse aroma da cana já começava a criar o ambiente que tanto apreciávamos, com aquela atmosfera de interior, onde as pessoas se cumprimentam nas ruas, onde sempre há tempo para uma conversa prolongada, para saborear um sorvete no banco da praça, e para observar cavalos desfilando em carroças pelas ruas de paralelepípedos, enquanto as casas se alinhavam de forma ordenada, recebendo os visitantes pela porta da sala de estar, que dava diretamente para a calçada.
No final da tarde, a nona ligava a televisão na Globo e deixava a porta da sala aberta, permitindo que crianças da vizinhança e até mesmo adultos se acomodassem no batente da porta e nos peitoris das janelas para assistir à novela das seis e, logo em seguida, ao Jornal da Globo, apresentado por Sérgio Chapelin e Cid Moreira.
A nona acompanhava as novelas e, quando cenas de ficção ou fantasia apareciam, ela costumava dizer: "É tudo verdade, vocês não acreditam?" Ela possuía sabedoria, pois tudo tinha um fundo de verdade, talvez algo impensável na época, mas que viria a se concretizar tempos depois, quando ela já não estava mais entre nós.
Ela prestava atenção nas notícias e sabia discutir sobre política, mostrando discernimento em suas opiniões, mesmo sem ter frequentado a escola. Minha nona Adelaide era realmente sábia. Meu nono Vicente, ou Vicenzo em italiano, tinha o apelido de Thentcho. Era uma figura engraçada, baixinho e com barriguinha, sempre usando um chapéu na cabeça, com poucos dentes restantes na boca, mas um sorriso largo sempre estampado no rosto. Ele caminhava lentamente devido a uma perna um pouco mais curta que a outra. Alguns diziam que ele havia sido atacado por um carneiro na infância, mas eu suspeito que tenha tido poliomielite, uma doença comum no Brasil naquela época.
Aos sábados à noite, íamos ao baile no salão de festas da praça, bem em frente à casa dos nonos. Nos arrumávamos com nossas melhores roupas, minhas irmãs, primas e amigas. A produção era completa, com penteados nos cabelos, maquiagem e tudo mais. Não nos surpreendia ver o nono Thentcho observando constantemente a entrada do salão, atento para proteger suas netas dos rapazes locais que cortejavam as moças vindas de São Paulo. Voltávamos para a casa dos nonos exaustas de tanto dançar e caminhar pela praça, flertando com os rapazes. A nona Adelaide já havia preparado nossas camas, afofando os colchões com palha seca. Cada movimento nosso produzia um farfalhar na palha seca, um som que permanece em minha memória.
Pela manhã, acordávamos encontrando uma depressão no colchão, pois a palha seca tinha migrado para as extremidades. Novamente, a habilidade das mãos da nona era necessária para afofar a palha.
Na hora do almoço, mal queríamos parar para comer. Cada minuto era precioso para explorar, aproveitar passeios e viver novas aventuras. Porém, a nona já estava ocupada preparando arroz e feijão, e chamava meu tio Amauri para capturar uma galinha gorda no quintal e depená-la para o almoço.
Em seguida, nos pedia para irmos até a horta nos fundos do quintal colher cebolinha. Com seu sotaque peculiar, ela instruía: "Peguem 'tibola' na horta." Nós não compreendíamos e ficávamos pedindo para ela repetir. Sem muita paciência, no meio de tantas tarefas que ela tinha para executar no dia, ela exclamava: "Tibola, tibola, tibola!" Eu e minhas irmãs corríamos para a horta, determinadas a apanhar o que fosse necessário, só para não precisarmos perguntar novamente.