A CASA ... O TEMPO
Cheguei devagar , sem fazer alarde toquei a campainha e esperei o portão ser aberto lentamente.
Desci as escadas , atravessei um jardim suspenso , cheio de vasos pendurados nas paredes da casa de alvenaria , são muitas plantas e todas elas tem uma história a contar, de quando minha mãe a pegou jogada em algum canto de rua e a recuperou .
A samambaia , a Comigo Ninguém Pode , as Azaléias , as Orquídeas , Espadas de São Jorge , os Bonsais , todos , definitivamente todos estão a décadas aos cuidados de minha mãe , e está é sua grande paixão , até conversa com elas todos os dias.
Entro na sala , como se o tempo a partir desse momento parasse no espaço e no relógio de cuco fica congelado seu tic tac .
Vejo uma senhorinha a cochilar no sofá com a cabeça pendida e a boca entre aberta.
Noto que a cada ano se torna mais miuda , o corpo vai perdendo músculos e tudo encolhe como a uma flor a murchar.
Cabelos de algodão branquinhos , fios finos como pãina ao vento.
Olho seu rosto , pele com rugas profundas , marcas que contam sua história , e lá se vão 80 anos.
Falo baixinho em seu ouvido : MÃE!
Seus olhos outrora azuis vívidos hj estão acinzentados e embaçados , mesmo assim se abrem devagarinho e escuto sua voz fraquinha : Quem é vc ?
Respondo meio sem jeito : Sou eu mãe já se esqueceu de mim ?
Sua voz fica alegre e faceira , escuto uma frase meio cantada: Ahhhh é minha filha Beatriz , ahhhh que saudades !!!!! Vc já almoçou ? Tomou chuva ? Venha aqui pra eu sentir seu cheiro, sua mãe está velhinha, não consigo mais te pegar no colo mas ainda tenho forças nos braços para te apertar forte no peito .
Enfim ! Saio toda babada de beijos e tratada como se tivesse 5 anos ,e não 55 , fiquei meio século mais jovem .
Para as mães os filhos nunca crescem, quem dirá envelhecem , maternidade é algo surreal .