Namoro Bissexto

NAMORO BISSEXTO

Julio Arthur Marques Nepomuceno (*)

29 de fevereiro me traz recordações bissextas... Foi no início da década de 70, eu com 14 anos, Virgínia um pouco mais nova, decidimos namorar. Namoro de adolescentes, o mundo parecia ser nosso, tínhamos uma vida pela frente.

Virgínia era uma menina séria. Buscou informações a meu respeito com amigos e até com um desafeto meu... Queria saber se eu era um bom menino... Pelo jeito, falaram bem de mim.

Não existiam essas coisas de ficar, ficar sério, para depois namorar. Namorar era coisa séria. Depois de alguns dias, o garoto pegava na mão da garota, depois com algum cuidado tentava abraçar. Se a menina não estrilasse, abraçava. Se não, não! E ficava nisso. Os namoros longos prosperavam com beijos mais efusivos, mas não foi o nosso caso. Foi tudo muito rápido. Fugaz. Tempo suficiente para uma paixão (de minha parte), e depois o fim. Quase morri de amor.

Durou pouco, logo depois mudei de ares. O caminhão de mudança não levou apenas os móveis, levou junto muitos planos. Mas ficou a saudade. Os planos interrompidos, a escola onde cresci, a lembrança dos tempos de tranquilidade, tudo ficou para trás.

Antes do dia fatal, Virgínia e eu nos despedimos. Cada um ia seguir sua jornada. Eu triste, ela nem tanto. Afinal, a vida haveria de continuar para os dois. Parece que as mulheres são mais realistas do que nós. Como dizia um antigo comercial de TV: “o mundo gira, a Lusitana roda...” E a vida continuou e o mundo não parou de fazer seu giro, o sol continuou a nascer e as estrelas voltavam à noite.

Eu, longe, vivi tempos de saudade.

Virgínia, menina decente, tomou outro rumo, eu também. Formou família, é uma profissional respeitada, pessoa querida na cidade onde mora... Merece! Sempre demonstrou caráter e sabedoria, mesmo sendo tão nova naquela época.

Eu também não posso reclamar. Há mais de 40 anos estou com a mulher da minha vida. Juntos, edificamos nossa família, vimos nascer nossa filha, nosso neto, acolhemos nosso genro... e somos felizes.

Sim, é possível superar. Existe espaço para que todos sejam felizes e encontrem a razão de viver. Ou reencontrem seus propósitos.

Hoje, tudo isso é apenas uma lembrança. Lembrança bissexta que gosto de recordar... Como dizia Carlos Drummond: “...e como dói...”.

(*) Julio Arthur Marques Nepomuceno sou eu

29.02.2024

Julio Arthur Marques Nepomuceno
Enviado por Julio Arthur Marques Nepomuceno em 01/03/2024
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