Benzedeiras

Guardo vivas lembranças das benzedeiras que povoaram minha infância. Eram mestras na arte de curar males que por vezes escapavam das garras da medicina convencional. Do quebranto à lombriga, do cobreiro ao desconforto.

Dona Luíza, uma figura querida, destacava-se como a mais renomada entre elas, residindo na Vila Jaguara, perto do nosso próprio bairro. Frequentemente, adentrávamos ao pequeno quintal de sua casa, onde éramos recebidos de braços abertos, independente do horário do dia, para receber suas bênçãos. Sua aura emanava bondade e fé, uma mulher que subsistia através da venda de peixes em sua modesta carroça. Quando em seu lar, dedicava-se a acolher crianças, jovens e pessoas de todas as idades, prontas para serem agraciadas por suas bênçãos curativas.

A fé que depositávamos nesse ritual transcendia todas as dúvidas, transformando a cura em uma certeza irrefutável. Minha mãe, Adélia, também possuía a habilidade de benzimento, com maestria limitada ao quebranto de crianças pequenas.

Nossa casa era um refúgio constante para vizinhos aflitos, que traziam consigo os pequeninos inquietos, perturbados por noites mal dormidas e choramingos incessantes.

Minha mãe, munida de um prato de água e uma colher de óleo, conduzia o ritual com destreza. A ansiedade materna se dissipava conforme o rito se desenrolava, abandonando o quebranto que pairava sobre a criança.

Mantenho firme a convicção no poder inigualável da fé materna, um dom que, até hoje, acredito que minha mãe possuía. Ela exerceu um papel fundamental na ajuda às mães daquela época, em uma sociedade onde o acesso à medicina era uma busca árdua.

As benzedeiras, na sua plenitude, preenchiam um vazio crucial nas vidas daquelas mães, oferecendo uma luz de esperança quando as opções eram limitadas e os médicos distantes.

E assim, o legado dessas mulheres de fé e compaixão ecoa, relembrando-nos que a cura pode residir nas mais profundas convicções do coração humano.