O circo

A chegada do circo Teatro Bandeirantes à Vila Ayrosa foi um acontecimento que marcou a minha memória nos anos 80, período em que eram comuns os circos itinerantes. Com seu colorido vibrante, o circo se instalou em um amplo terreno ao lado da Igreja Santa Luzia.

As ruas da vila foram inundadas pelo som animado do carro de som, que anunciava com entusiasmo as atrações do circo. Minhas irmãs, colegas e eu ficamos empolgadas com as apresentações teatrais realizadas pelos artistas circenses. Eram peças repletas de romance que atraíam a atenção especial das jovens da época, despertando sonhos e imaginação. O galã que assumia o papel principal se transformava em um ídolo, ocupando um lugar nos sonhos das adolescentes.

Os dias que antecediam as apresentações eram marcados por uma ansiedade crescente. Centavos eram economizados para garantir a entrada no circo. Eu mesma não mediria esforços para ajudar na lavagem da louça do almoço na casa da tia Terezinha, que generosamente recompensava minha ajuda com algumas moedas.

Nas noites de espetáculo, quando minhas irmãs mais velhas não podiam me acompanhar, eu ia na companhia das amigas Lena e Toninha, as filhas da D. Prazer. Juntas, enfrentávamos a fila na bilheteria e antes de entrar na tenda,

observávamos outras crianças tentando se infiltrar por debaixo da lona.

Escolhíamos os melhores lugares nas arquibancadas, buscando uma posição privilegiada para apreciar o espetáculo. Sob nossos pés, estava o chão de terra, onde as estacas fincadas seguravam a lona do circo. À medida que o público se agitava, uma poeira fina se levantava, impregnando nossas roupas e cabelos, mas nada disso importava. Meu olhar ficava fixo no palco iluminado, onde a magia acontecia.

Primeiro, os palhaços tomavam o palco, arrancando risadas da plateia. Em seguida, a mulher gorila entrava em cena, provocando tumulto e risadas ensurdecedoras entre as crianças. Eu, ingenuamente, acreditava que ela de fato se transformava em gorila, e quando voltava para casa, alertava meus pais sobre a ameaça que poderia estar à solta nas ruas escuras da vila.

Equilibristas e malabaristas cativavam nosso olhar, mas, o momento mais aguardado por todos era a peça teatral. Assim que o galã surgia no palco iluminado, as adolescentes vibravam nas arquibancadas.

Quando o circo finalmente desmontava suas lonas para seguir rumo a outra cidade, uma sensação de tristeza invadia cada canto da vila. Eu observava tudo à distância, vendo os artistas desmontando as arquibancadas, empacotando os figurinos e preparando os trailers. O cortejo seguia pela Avenida São José, um carro atrás do outro, enquanto corríamos para

tentar acompanhar. Meu olhar seguia o trajeto até que a visão se perdesse no horizonte, deixando para trás um vazio que só seria preenchido pela próxima novidade. Talvez um parque de diversão pudesse ocupar o lugar do circo, trazendo consigo uma nova onda de emoções e aventuras. Quem sabe?

Neusa Maria Cesarino Martins
Enviado por Neusa Maria Cesarino Martins em 19/02/2024
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