As viagens de trem
Embarcar no trem com destino a Jaú, aquela encantadora cidade do interior paulista onde meus avós e tios residiam, era uma aventura aguardada com fervor por nós. Durante meses, alimentávamos sonhos acerca desse momento. As asas da ansiedade começavam a se desdobrar semanas antes da partida, quando iniciávamos a meticulosa organização de nossas malas. Não poderíamos, de maneira alguma, esquecer nenhum item essencial: roupas, maquiagem e minha prima, sempre prevenida, carregava consigo uma pilha de revistas e gibis que, invariavelmente, permaneceriam
intocados ao longo da jornada.
Antes do amanhecer, partíamos de nossa humilde morada em Osasco, rumo à Estação da Luz. A viagem até Jaú estendia-se por cerca de sete longas horas. Acomodávamo-nos na classe econômica, onde não havia assentos designados, apenas aqueles que chegassem primeiro teriam o privilégio de sentar-se. Muitos passageiros acabavam viajando em pé, atestando a popularidade e o apelo do destino.
Minha mãe, previdente, providenciava sanduíches simples de pão com mortadela e suco acondicionado em garrafas. Durante o trajeto, vendedores percorriam os corredores, oferecendo balas, doces e salgados, mas raramente
cedíamos às tentações, pois sabíamos que cada moeda economizada seria necessária para pagar o retorno a São Paulo. O trem realizava paradas estratégicas em diferentes estações, permitindo a entrada e saída de passageiros. Era uma cena vibrante e movimentada, observar as pessoas adentrando e deixando o trem. Por breves instantes, lançávamos olhares curiosos pelas janelas, ansiosos por capturar pequenos vislumbres de cada localidade que se revelava diante de nossos
olhos.
E quando o trem, imponente em sua marcha, voltava a se embrenhar pelos trilhos da ferrovia, o fiscal, trajando o uniforme característico da empresa ferroviária, meticulosamente percorria cada assento para conferir os bilhetes, picotando-os com uma ferramenta que carregava consigo, sinalizando assim a regularidade de nossa viagem.
Em meio a essa jornada, desfrutávamos das melodias da locomotiva, que ecoavam pelos vagões e se misturavam ao frescor do vento que adentrava pela janela aberta. Piuí, piuí, soava o apito do maquinista, como uma sinfonia anunciando nossa progressão. Quanta nostalgia aflora ao recordar essas preciosas viagens de trem.
Ao chegarmos ao nosso destino, a emblemática estação da Ayrosa Galvão, em Jaú, descíamos do trem, carregando conosco as bagagens e as dores pelo corpo, frutos da longa viagem. Contudo, em nossos corações, a alegria e a esperança
pulsavam, ansiosas pelo retorno que nos brindaria com as mesmas emoções vivenciadas anteriormente.
Essas memórias de viagens de trem teceram teias duradouras em nosso ser, repletas de sorrisos compartilhados, paisagens passageiras e a sensação inebriante de desbravar horizontes desconhecidos. Por mais que o tempo avance e o mundo moderno nos convide a abraçar novas formas de locomoção, essas experiências sobre os trilhos permanecem como um tesouro intacto em nossas recordações, despertando a nostalgia de um passado cheio de aventuras e nos envolvendo com a doçura dessas lembranças.