Meus vários anos
Aquela menininha que a noite gostava de deitar na grama, para olhar os sputniks no céu ao lado do seu papai, cresceu e se tornou uma saudosista.
O tempo, esse antigo senhor que nunca envelhece, sempre dá um jeito de nos arrastar em busca das lembranças perdidas, mas nunca esquecidas, como aqueles carnavais de outrora, cheios de confetes e serpentinas, embaladas pelo som de um clarinete tocando ''As águas vão rolar'', acompanhado pela voz daquela menininha que gostava de olhar o céu e de cantar.
Dizem que as lembranças não matam, fortalecem.
Qualquer lembrança uma saudade...
E todas começam no Natal.
Como aquelas noites de páscoa, quando o coelhinho papai, sorrateiramente, levantava para botar os ovinhos num prato improvisado como ninho.
No dia seguinte, a alegria se misturava com a decepção, pois o coelho botara mais ''caquis que ovinhos nos nove ninhos.
Bolachas faziam parte do arsenal do velho coelho, acompanhado pela cumplicidade de sua fiel escudeira coelhinha mamãe, que colocava suas balinhas, bolachas e bananas no ninho de cada um.
Logo em maio, tudo se transformava para homenagear as mães com um singelo cartão, feito com a ajuda da professora querida.
As festas juninas chegavam em junho e pareciam ser um grande encontro em volta da fogueira de Santo Antonio, São Pedro e São João. Pipocas, Pinhão e quentão, rolavam soltos.
Logo em seguida começavam os desfiles para homenagear o aniversário da cidade amada. Minha linda Irati.
Chegava agosto o mês do desgosto, como diziam as comadres assustadas e todos se preparavam para homenagear o dia dos pais. Novamente o cartãozinho era feito com o auxílio precioso da professorinha.
Chegando setembro e o desfile escolar se aproxima novamente, na euforia dos ensaios e o orgulho de ser uma participante, em meio a tantos coleguinhas do Grupo Escolar Duque de Caxias.
Outubro despontava no horizonte.
O dia das crianças se aproximava acompanhado pelo dia de Nossa Senhora Aparecida, a nossa padroeira do Brasil
Enfim chega novembro, o mês que vem acentuar saudades daqueles que um dia passaram pelas nossas vidas, plantando em nós para sempre, a semente da saudade quando partira. Dia de finados.
Nada se perde, tudo se transforma, diz a sabedoria popular. Mesmo assim, sabendo da nossa imortalidade, a saudade aperta e faz chorar.
Eis que ele chega novamente em dezembro:
É o natal que se aproxima, trazendo muitas luzes cintilantes nessa noite feliz.
É a época que mais se invoca a infância, traduzida no poema de Casimiro de Abreu.
Meus oito anos
Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida
da minha infância querida que os anos não trazem mais
que amor, que sonhos, que flores naquelas tardes fagueiras
a sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais...
Se um depoimento pudesse dar agora, diria que simplesmente passei pela infância e vivi.
Plantei uma árvore, tive filhos e um livro escrevi.
Se um conselho pudesse agora dar, diria para as crianças:
Aproveitem bem os seus oito anos.
Uma abelhinha de Irati.