Abandonado

Um simples homem de bem

Tinha muito pouco mas era rico daquilo que o dinheiro não compra.

O branco do arroz no prato era maioria

Alguns míseros torresmo picadinho

Vez ou outra um pedaço de carne retirado da lata no canto abaixo da pia.

O café transparente no copo era mais gostoso que o mais famoso Capuccino.

Tudo era simples e acolhedor

Brigavam durante o dia e a noite se abraçavam

Família diferente

Num pequeno espaço de tempo,morreram todos.

Ficou meu amigo Airton a deriva

Venderam a casa e ele ficou a mercê da estadia dos irmãos..

Não demorou muito foi jogado pra fora

A rua lhe acolheu esfomeada

Virou um bêbado falante e um sóbrio vergonhoso

Do meu quarto numa noite gelada escutei gemidos sentidos.

Abri a janela com dor nas mãos pelo frio intenso

Lá estava o corpo dele derramado sobre um banco inútil de uma rodoviária antiga

Vesti minha roupa e fui agasalhar meu amigo de infância.

Cobri e coloquei uma toca em sua cabeça.

Não houve mais gemidos

Não sabia se ficava triste ou alegre pelo silêncio.

Ao amanhecer ele não estava mais lá.

Um dia vi ele machucado e levei para o hospital

Ele sentado na cadeira de roda agarrado em meus braços como quem estava com medo e perdido

Olhou pra mim e disse com a fala dificultada

"Saudades da nossa infância meu amigo "

Meus olhos choraram um rio

Me senti um inútil e sem reação

Só acariciei sua cabeça e disse

Você vai ficar bem meu amigo

Você é gigante.

Ele não amanheceu no outro dia

Eu desejei morrer com ele.

"Saudades da nossa infância e de você meu amigo"

Alexandre Fagundes
Enviado por Alexandre Fagundes em 29/01/2024
Reeditado em 29/01/2024
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