Desilusões

Ao longo da minha vida, minha grande vida, aos setenta e poucos anos, me vejo envolto em sombras de uma história que se desenrolou como uma tragédia silenciosa. Tudo começou quando, há décadas, um alguém bateu na minha porta, trazendo consigo promessas de amor que iludiu meu coração. Era uma mulher belíssima, cujas juras de amor pareciam tão sinceras.

Compromissos foram selados e promessas de fidelidade ecoaram no altar sagrado do matrimônio. No entanto, com o tempo, a leveza das juras contrastava com a ausência de emoção e razão em seus atos. Ela se tornou uma sombra que pairava sobre meus dias, roubando meus sonhos à medida que o tempo escorria entre nossos dedos.

Ao longo dos anos, ela tomou para si não apenas a minha vida, mas também a minha história. Cada capítulo, cada conquista e derrota, foram usurpados e transformados em páginas de uma narrativa distorcida. Eu, um mero espectador em meu próprio relacionamento, buscava, aos setenta e poucos anos, desvendar os enigmas de quem eu fui e quem eu sou.

A solidão tornou-se minha companheira mais constante, e as rugas no espelho refletiam não apenas o passar dos anos, mas também as cicatrizes invisíveis de um amor traído. A pergunta ecoa dentro de mim: por que me abandonastes? A resposta, como as sombras do passado, permanece evasiva.

A busca por respostas torna-se uma jornada dolorosa, uma viagem através das memórias tão cruéis. Busco encontrar o fio da meada que conduza à compreensão do labirinto emocional no qual me perdi. Quem eu era antes de ser envolto nesse véu de decepções? Quem sou agora, quando as marcas do abandono se entrelaçam com as linhas do tempo?

Caminho pelos corredores da minha própria história, tentando desvendar os nós que me foram impostos. Em cada lembrança, busco a verdade que foi ocultada pelas mentiras, traições. Aos setenta e poucos anos, não busco vingança, mas sim a reconciliação comigo mesmo.

Diante das escolhas que moldaram meu destino, encontro a coragem de enfrentar o desconhecido. Não mais um espectador, mas o protagonista da minha própria redenção. Que as mudanças no fim da minha vida se dissipem, revelando, enfim, a luz da compreensão e a paz que anseio encontrar antes do último suspiro.