Há 24 anos... mas parece que foi ontem!

Em fevereiro de 2000, eu me dirigia a Bauru, cidade então desconhecida para mim, a quase 300 quilômetros de Jundiaí. Minha missão: iniciar uma vida, que duraria, no mínimo, quatro anos.

O primeiro passo foi encontrar um lugar para me instalar, mesmo que provisoriamente. Um pensionato chamado "Fratello Universitário", localizado na avenida Dr. Gonzaga Machado, paralela à avenida Duque de Caxias, foi a opção mais sensata. Soubera do lugar por um panfleto distribuído na cantina central do câmpus, na data da matrícula.

Tratava-se de uma casa/pensão mista com cerca de oito quartos, que naquele ano chegou a hospedar 13 homens. As mulheres que apareceram por lá, com seus pais, felizmente tiveram o bom senso de não ficarem.

O proprietário chamava-se Marco, um descendente de italiano bem vestido e de "pavio curto" (claro). Dona Márcia era a responsável por manter a ordem da casa, cozinhando, lavando e passando para todos aqueles que, além de pagarem o aluguel mensal, também contratava seus serviços extras de café da manhã, lavagem e passagem de roupas.

Seu marido, o Sr. Manoel, era dono de uma lanchonete que ficava no caminho para a Unesp, o que motivava-os a substituir, vez por outra, as refeições que pagávamos, por lanches cujo preço era bem maior para nós que para o público em geral.

Dentre inúmeros quartos ainda vazios, optei por completar o quarto que já tinha três estudantes: Gabriel, Alexandre e Rafael. Este último era da minha turma, no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, período noturno, na Unesp. Dona Márcia prontificou-se em pedir-me: cuide do Rafael, pois a mãe dele assim me pediu.

Concordei, mas pensei: e quem é que vai cuidar de mim? O fato é que nos tornamos muito amigos, quase irmãos, quase não, irmãos mesmo... por vocação.

Nos perdemos no primeiro dia de aula. Íamos de ônibus sem saber onde descer. O veículo estava lotado de veteranos e "bixos". E o Rafael resolveu descer no lugar errado. Eu, vestido com a camiseta do curso, segui-o. Até hoje não sei porque fiz isso. Talvez tenha sido o pedido da dona Márcia (ou talvez não). Tivemos que achar o caminho até o campus a pé. E achamos. No trote, fizemos pedágio e, às 23 horas, quando retornávamos para o pensionato, também tivemos que nos virar para achar o endereço de casa.

Vivemos pouco menos de três meses no Fratello e acabamos montando nossa própria república, junto com um segundo Rafael, que sem demora recebeu o apelido de Barriga, unespiano do curso de Sistemas de Informação, também no período noturno, o que facilitou inicialmente a convivência.

Fomos morar em um apartamento novo, na rua Christiano Pagani, no condomínio Villa Verde, no inesquecível apartamento 34-C, "embaixo daquelas minas".

Uma noite, sentados os três na cozinha ainda vazia do apartamento, que aguardava a chegada do restante da mudança, como geladeira, mesa e fogão, imaginávamos como seriam os últimos dias daquela república que começava naquele instante. "Isso vai demorar", observei. "Nem quero pensar nisso... vai ser muito triste", completou o Barriga, que se mudaria dois anos depois.

Hoje, passado tanto tempo como se fosse um assopro, sinto saudades daqueles dias de banho gelado e noites dormidas no chão. Como o tempo passa, meu Deus!

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Texto de autoria do amigo/irmão

Gustavo "Billy"

*11/04/1977

+31/12/2021

Descanse em paz.

Rafael Aparecido
Enviado por Rafael Aparecido em 22/01/2024
Reeditado em 22/01/2024
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