Sertanejo em Araçatuba (SP)

Eu fiz uma viagem penosa para Araçatuba, arrastando duas pesadas malas. Em Osasco peguei um trem até a Estação da Luz, e de lá até a Rodoviária do Tietê, um metrô. O ônibus partiu quando passava do meio dia de um dia do fim do mês de maio de 1983. Foram oito horas de viagem até aquela agradável cidade do Noroeste paulista. Fiz o trajeto todo chorando de saudade. Estava muito apaixonado... Na verdade eu estava enfrentando um conjunto de sentimentos: paixão, carência, saudade de casa e me sentindo perseguido e pressionado. Desembarquei na rodoviária da cidade à noite. Passava das 20h, creio. De algum ponto, ali próximo, vinha os acordes de uma dupla sertaneja chamada de Chitãozinho e Xororó, que eu jamais havia ouvido falar, entoando uma canção cuja letra descrevia "um fio de cabelo no paletó" - como uma espécie de troféu por um momento de paixão. Percebi que algumas pessoas "duelavam" para gritar mais alto o refrão. Confesso que não dei a mínima importância. Passei quatro sofridos meses em Araçatuba. Conheci muita gente, e sinto saudade de algumas... Aos poucos fui percebendo que a cidade, em peso, cantava aquela canção, que parecia mais um hino - da "plebe rude", passando pelas mulheres lindíssima da alta sociedade local, todos sabiam a letra de cór. Agora chega-me a notícia da Partida de seu autor, Darci Rossi. As lembranças me trazem nitidamente os momentos de saudade da mulher que eu amava, e a cidade onde eu estava vivendo aqueles acontecimentos. Tudo *na* velocidade da luz.

Cidade do Natal (RN), 20 de janeiro de 2017

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