RECORDAÇÕES ESCOLARES parte 1

Escola 3-8 Afonso Pena

Distrito Federal, data tal.

Assim era o cabeçalho escolar naquele saudoso ano de 1959, último em que a cidade do Rio de Janeiro posou de capital federal.

A turma compunha-se de uns trinta alunos, quase todos na faixa dos sete anos. Entre eles, este narrador, que permanecerá no anonimato por pura modéstia (ou será por prudência?). Segue a lista de nomes, por ordem alfabética e até onde a memória alcança: Abílio, Alberto, Ângela, Ariel, Carlos Afonso, Cláudio, Edeuza, Elizabeth de Paula, Elizabeth Richard, Fausto, Fernando Jacques, Heloísa, Jorge Luís, José Manoel, Joyce, Kátia, Lúcia Maria, Manuel, Maria Alice, Maria Lúcia, Nádia, Oswaldo, Paulinho, Regina Isabel, Ricardo e Roberto (gêmeos), Rosângela, Sônia Maria, Valéria, Vera Cristina, Vera Lúcia.

A inesquecível professora, D. Nylza Miscow, acompanhou esse grupo da primeira à quarta série (na época, ainda não era costume chamar as “fessoras” de tias).

Embora difícil especificar com exatidão, alguns alunos deixaram a turma antes da última série. Teria sido o caso do Abílio, da Ângela, da Lília (que entrou no segundo ano) e do Zé Manoel.

Por outro lado, em 1960/61, somaram-se crianças provenientes de outras escolas ou de turmas diversas, em especial as da D. Pedrínia (seria assim o nome?): Elizabeth Meireles, Jurema e Kátia II. As que vieram de fora incluíam Eloy, Jurandir, Maria Cristina (sobrinha da professora), Paulo Moreira, Sheila.

Maria Alice constitui um caso particular de vai-e-vem. Ótima aluna, originária de família bem humilde, deixou a turma por quase um ano e regressou na terceira ou quarta série, sendo recepcionada pelos amiguinhos com uma ovação que a emocionou e a fez chorar. Par do narrador, uma ou duas vezes, nas memoráveis festas juninas organizadas pela escola (o par mais frequente foi, contudo, a Elizabeth Richard, alcunhada Pituchinha, por ser a menor da turma, bem à altura deste baixinho, contador da história).

Eloy, neto de importante figura política na época, distinguiu-se na turma não só pelas notas, mas também por seus dotes teatrais. Na última série, coube-lhe o papel principal de Afonso Pena na peça montada pelas professoras em homenagem ao ex-presidente brasileiro.

A segunda Kátia também se destacou, mas por ser “espoleta”, dando razoável trabalho à paciente D. Nylza para contê-la nas aulas. Totalmente diferente da primeira Kátia, uma bonita lourinha que sempre se revelou bem comportada.

Bom número das encantadoras meninas da turma destacava-se em matéria de aplicação nos estudos. Além da Maria Alice, alunas como Joyce, Jurema, Lília, Lúcia Maria e Valéria brilhavam nos exercícios e provas escolares, bem assim nas competições de conhecimento que a professora promovia vez por outra entre meninas e meninos.

Do lado masculino, Manuel era outro ótimo aluno. Chegou a conquistar a medalha de ouro na prova final da 2.a série, única vez em que se distribuiu esse tipo de honraria na turma. Fernando Jacques e os gêmeos Ricardo e Roberto também costumavam obter notas elevadas e participar bem nas tais competições, embora o primeiro se sobressaísse principalmente por ser, ao lado do Eloy, os que mais chiavam contra as inevitáveis derrotas para as meninas. Quem diria que, adulto, acabaria por transformar-se em grande feminista? Em sua atividade como cartunista, prestou várias homenagens às sogras particularmente.

A festa final de premiação em 1960 revestiu-se, adicionalmente, de ares natalinos, pois todos os alunos foram agraciados com presentes. Uns dois meses antes, D. Nylza circulou entre a classe uma lista de brinquedos a escolher, oferecidos pelo fabricante. Naquele momento, Paulinho disse à professora que preferia ganhar uma camisa do América Futebol Clube, seu time preferido. Apesar de assim combinado, o menino mudou de opinião mais tarde e optou por pistola e espada de pirata, anteriormente escolhidas por outros colegas. Deve ter pensado que ele iria destoar do grupo de amigos sem esse brinquedo.

Não é que, no fim-de-semana anterior à festa na escola, o Mequinha sagrou-se campeão carioca, o primeiro título do novo estado da Guanabara?

Com sua típica bondade e carinho pelas crianças, a professora surpreendeu Paulinho, dando-lhe não só a espada e a pistola de pirata, mas igualmente a camisa do América. O garoto não cabia de contente na sala, trajando o uniforme do seu clube, no qual exibia, ademais, a medalha de prata da segunda colocação que obteve junto com outros colegas.

Em meio a tantas glórias registradas, este narrador teve de suportar, além das constantes reclamações paternas, as ocasionais admoestações da professora por seus garranchos. Como se não bastassem, ainda vinham “conselhos” para que se espelhasse na linda caligrafia de sua colega Valéria. Pois é, a escola era franca, mas nem sempre risonha.

Opa! Soou a campainha. As memórias continuam mais tarde.

Brasília, setembro 2023.