Eu conto a tua história IV

 

Essa história foi publicada em nosso Blog com o título 

 

Fui Roubado

Em 06/09/2007 19:52

Anteontem ao te pegar na escola parecia tudo bem.

Mas quando saímos fora do portão você começou a chorar e veio chorando até em casa.

Primeiro não queria me contar o que tinha acontecido, mas depois foi contando:

- O dinheiro que tu me deu para comprar lanche eu comprei uma rosquinha. E sabe o que aconteceu? Fui roubado. Roubaram minha rosquinha.

- E por que não comeu a rosquinha?

- É que não deu tempo.

- Mas tinha o recreio todo para comer a rosquinha.

- Mas é que primeiro eu fui na cantina da escola ver o lanche que tinha lá, daí era bom, então eu comi.

- E depois eu fui na biblioteca (ele ama ir na biblioteca nos intervalos).

- E depois então eu fui na fila da cantina comprar a rosquinha e daí bateu o sinal e não deu mais tempo de comer. E eu nem tinha mais fome também.

- Então eu guardei na mochila para comer a rosquinha quando chegasse em casa.

E você chorava, chorava, chorava, enfiando a cara no travesseiro de sua cama.

Eu já desesperada.

Maitê do escritório ouvia o berreiro.

- E eu cuidei tanto da minha mochila. Eu ficava copiando a tarefa com um olho no quadro e o outro na mochila. Por fim, eu já parecia uma GALINHA com os olhos do lado. E foi nessa hora que os olhos ficaram de lado que eu tive de virar para ver melhor a tarefa e então eu fui roubado.

Nessa altura eu ria por dentro e me segurava para não gargalhar e para ficar séria, dando importância ao que você falava...

- Então a Ana veio me avisar que a minha rosquinha não estava mais dentro da mochila. Eu fui correndo ver e descobri que era verdade. E a mochila estava aberta.

- Eu achei que era a Ana que tinha roubado.

- E por que você não falou para a professora?

- Porque eu achei que se eu contasse para a professora e dissesse que era a Ana que tinha pegado e a Pro falasse com a Ana e ela dissesse que não, então a Pro iria acreditar na Ana e não em mim. Por isso, eu fiquei quieto.

Tentei explicar para você que não precisava acusar ninguém, mas só contar que tinha sumido a rosca.

E assim conversamos e com o tempo você foi se acalmando.

Mais calmo você me pediu:

- Mamy, amanhã eu posso levar 2 reais para comprar outra rosquinha para mim? É que eu nunca ainda que eu consegui experimentar essa rosca. Da outra vez que comprei, o Guilherme estava com fome, não gostou do lanche da escola e eu como gostei, dei minha rosquinha pra ele e agora ela sumiu.

Disse que não, que agora você teria que ficar só com o lanche da escola e que no mês seguinte podia levar outra vez.

- Mas, mamy, sobrou troco daquele dinheiro que você me deu... eu levo esse então...

Enfim, no dia seguinte eu não estaria em casa. Tinha uma reunião em Florianópolis e só voltaria à noite.

Então fiz anotações na agenda da escola sobre o ocorrido e pedi a Pro que conversasse com os alunos sobre pegar as coisas dos outros sem pedir. Pedi também para Maitê, ao levar você par a escola, conversar com a Pro.

Na noite do dia seguinte, ao chegar, peguei a agenda e tinha um recado da Pro agradecendo e dizendo que tomariam providências imediatas.

No dia seguinte fui buscar seu boletim e conversei com a Pro (que se chamava Fernanda e era carioca).

Eles já estavam desconfiando devido a relatos de outros alunos e chamaram os pais para conversar.

Bom, enfim, enquanto conversávamos você disse:

- Mas agora já tá tudo bem, porque eu já consegui experimentar a rosquinha. No dia seguinte eu levei dinheiro e comprei uma e comi.

Tivemos de rir eu e a professora.

Descobrimos o motivo do choro.

Não era o fato de alguém pegar a rosca.

Era porque você nunca tinha conseguido experimentar uma...

Ai, ai, ai, essas crianças.

Aprendi algumas lições com isso.

Foi maravilhoso o que aprendemos juntos e como pude conversar com você sobre roubo.

E foi assim, meu querido, foi bem assim que você aprendeu o que é isso - ROUBAR.

 

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Foto: Maria (Você, olhando Moa fazendo compras em Gramado - Rio Grande do Sul.