Peão do Interior
Eu um dia passei naquela estrada com uma cabaça nas costas e uma foice afiada.
Puxei daquele poço a água fria onde banhei antes do anoitecer.
Escutei o bacurau saltitar nas noites de luar.
Vi muitas estrelas iluminando o céu, mesmo em noite sem luar.
A Terra era mais escura que o céu, os grilos cantavam tristonhos.
Vagalumes passavam por mim, dançavam na escuridão.
Fui menino malino, que pescava no riachão.
Morria de medo das histórias que meu avô contava, da mulher de branco que aparecia na chapada.
A velhice me chegou, me estirou no chão. Me fez cair, me derrubou num caixão.
Agora deitado lá, quieto no meu cantão.
Já me esqueceram, meus amigos também já morreram.
Agora o único que passa aqui é um bem-te-vi.
Que inocentemente canta sem saber, que um dia vai morrer.