A TRAJETÓRIA DA MINHA VIDA

Meu nome é Nadir Telaroli da Silva. Sou casada com João Batista Moutinho da Silva. Meu nome de solteira é Nadir Ladislau Telaroli, nasci em vinte e um de outubro de mil novecentos e cinquenta e dois (21-10-1952) em Terra Alta, município de Linhares, distrito de São Rafael. Meu pai se chama Leandro Telaroli, e minha mãe, Valmir Ladislau Telaroli, mas nos meus documentos consta Valmir Pereira Ladislau por um erro do cartório. Meu pai era um pequeno fazendeiro no interior de Linhares, minha mãe, já falecida, era uma dona de casa que sabia ler muito pouco, mas sabia muito mais que alguns doutores. Somos sete (7) irmãos.

Meu pai tinha onze (11) irmãos, sendo seis (6) mulheres e seis (6) homens. Ficaram órfãos de pai muito cedo, e meu pai, como filho mais velho, tornou-se um pouco pai dos irmãos, dois dos quais foram morar com ele quando se casou aos vinte e cinco anos. Ele serviu o exército aqui em Vila Velha, sendo o único a prestar serviço militar. Consertava as armas do exército, pois era ferreiro, também armeiro, e tinha várias profissões. Minha mãe era uma super mãe. Além de cuidar de sete filhos, ela lavava roupas para fora, cuidava da minha avó e ainda criou mais três crianças.

Minha mãe tinha 17 irmãos, dos quais eu conheci 8. Ela ficou órfã de mãe aos 8 anos de idade. Ela sempre dizia que a pior coisa que aconteceu na vida dela foi ter perdido sua mãe e rezava muito para ter tempo de criar seus filhos para eles não passarem pelo que ela passou. Ela sempre fazia três pedidos a Deus: que pudesse criar seus filhos, que não ficasse doente dando trabalho aos filhos e que não deixasse despesas. Todos os seus pedidos foram atendidos. Ela se foi aos 62 anos e foi sepultada no dia do aniversário de seu 34º filho caçula. Até hoje, levamos em conta seus conselhos. Sempre que vamos fazer qualquer coisa, pedimos que Deus nos ilumine e nos guie.

Em 1960, nos mudamos para Colatina quando eu tinha oito (8) anos, uma época muito difícil. Primeiro, tivemos uma seca muito grande, e ele teve que vender a fazenda. Em Colatina, enfrentamos uma enchente que causou um grande estrago. Meu pai arranjou emprego na Prefeitura e ganhava muito pouco. Era uma época difícil, pois havia falta de feijão, e meus irmãos não estavam acostumados a comer sem feijão. Todos os dias, na hora do almoço ou janta, era aquela choradeira. Nos momentos mais críticos, meu pai fazia martelos e machadinhas, vendíamos para comprar comida, e pão era só dormido, pois comprar pão fresco não dava.

Meu pai decidiu vir para Vitória em 1961, ver emprego e voltou empregado da Prefeitura de Vitória como contratado. Nos mudamos. Fomos morar com meu tio, que já tinha seis filhos, num total de 12 crianças, e só meu pai trabalhava. Muitas vezes, pegávamos siri ou caranguejo para nos alimentar. Gastávamos 5 quilos de farinha a cada dois dias, que era o que podíamos comprar. Nos mudamos para Alto Lage, e as dificuldades também. Minha mãe lavava roupa para fora e, muitas vezes, ia catar café nos armazéns do porto para interar nas despesas. Não tínhamos onde estudar porque era tudo distante. Mamãe arranjou uma moça que era nossa vizinha para nos ensinar a ler e a escrever. Era muito sacrifício, mas não tinha outro jeito, assim aprendemos um pouco. Aqui onde moramos hoje era administrado pela Prefeitura de Vitória, e meu pai ganhou um pedaço de terra do administrador da época. Lógico que ele pegou o melhor lugar e também marcou lugar para os irmãos que também não tinham onde morar. A rua principal ficou quase toda com a mesma família. Para fazer a casa, era o maior sacrifício, nós, os filhos mais velhos, éramos seus ajudantes de pedreiro. Saíamos de Alto Lage a pé e íamos para Porto de Santana, dois junto com ele de manhã e dois na hora do almoço para levar comida. Neste período, houve a invasão. No dia 20 de setembro, meu pai chegou em casa e disse: vamos nos mudar amanhã, mas a casa ainda não estava terminada, faltava terminar de cobrir e colocar portas e janelas. O problema era que o chefe dele avisou que toda casa que não estivesse ocupada seria demolida, e nos mudamos no dia 21 de setembro de 1962, com a casa do jeito que estava. Já éramos sete crianças, mais um tio e um primo.

Nossas brincadeiras hoje já nem existem. Passar anel, contar histórias, jogar bolinha, pique-esconde. Um dia, coloquei meu primo dentro de um tonel e o rolei de morro abaixo. Tomei uma surra homérica. Éramos unidos e partilhávamos o pouco que tínhamos. Eu, com 10 anos, nunca tinha ido à escola, mas sabia ler e escrever graças ao empenho de minha mãe. Fomos matriculados no único colégio que existia em Porto Novo. Era muito distante, mas precisávamos estudar. Íamos os quatro mais velhos. Dois de manhã e dois à tarde. Um aproveitava o material do outro. Cadernos só de oito folhas. Quando ganhávamos um caderno de 50 folhas, era a maior alegria do mundo. Como eu já sabia ler e escrever, minha professora, que se chamava Palmerina, me deu um teste, e eu passei direto para a segunda série. As dificuldades ainda duraram um bom tempo. Nossa casa era a única que tinha água, e nós ganhávamos um troquinho carregando água e enchendo tonéis para as pessoas do morro. Quase ficamos com a cabeça chata. Nosso uniforme era aquele lindinho, saia vermelha pregueada e blusa branca com uma gravatinha também vermelha com listinha branca que indicava a série que estávamos. Uma listinha, 1º ano; duas listinhas, 2º ano, e assim por diante. Mas nosso colégio só ia até a 4ª série. Tive que mudar de colégio e fui para o João Pedro da Silva, que era um colégio de dia e à noite uma igreja (Assembleia de Deus). As salas de aula eram divididas com uma cortina, de um lado estudava a 4ª série e do outro a 5ª série. Terminei a 5ª e era preciso fazer admissão para continuar estudando. Passei a estudar na Igreja Batista. Passei no exame de admissão em primeiro lugar, e fomos estudar em Itaciba, no hoje Terfina, que estava sendo inaugurado, era particular e administrado pelo Dr. Luis Batista. Imagine a dificuldade para pagar as mensalidades. Estudei até terminar o 1º semestre e parei. Íamos a pé todos os dias. Trabalhei em padarias, fazendo jogo do bicho e arrumadeira em uma república de estudantes, na guarda de segurança.

Comecei a namorar aos 19 anos, conheci meu marido através de meu irmão, nos tornamos amigos porque meu pai tinha um time de futebol (a Portuguesa) no qual ele jogava. Um ano depois começamos a namorar de brincadeira que depois se tornou sério, ficamos noivos, terminamos e eu fui morar no Rio de Janeiro, quando voltei quem foi embora foi ele. Voltamos a namorar quando ele veio passear, mas já nos conhecíamos a 4 anos, neste período a situação melhorou um pouco, já podíamos ajudar em casa. No dia 13 de junho de l975 voltamos a namorar e dia 28 de fevereiro de 1976 nos casamos. Eu com 23 anos e ele com 22. Meu marido sempre foi uma pessoa muito responsável, embora ganhasse pouco, a gente vivia normalmente. Minha filha Fabiana ainda pegou um pouco das crises financeira e familiar, quando Liliana nasceu já tínhamos melhorado um pouco. Durante 8 anos vivíamos viajando, moramos um ano e seis meses no Rio de Janeiro, oito meses em Minas Gerais, um ano em Brasília, um ano no Maranhão e 1 ano e seis meses no Ceará. Fabiana na 4ª série já tinha passado por oito colégios e Liliana no segundo já tinha passado por três, mas sempre foram boas alunas a se adaptavam rapidamente e as notas sempre eram as melhores da turma. Nós nunca nos mudamos de Porto de Santana. Quando viajávamos levávamos algumas roupas de cama, alguns utensílios domésticos e um fogão de duas bocas, o resto ficava trancado. Mas o meu sonho sempre foi ter minha casa separada, graças a Deus conseguimos ter nosso próprio cantinho, há 17 anos estamos aqui. Problemas nós tivemos aos montes, mas minha família foi construída com bases certas, amor, responsabilidade, companheirismo, minhas filhas graças a Deus são grandes pessoas, não só no tamanho, mas no respeito, compromisso. Meu marido continua sendo o companheiro que Deus me deu, tem seus defeitos, mas quem não tem? Estamos juntos há 30 anos, não foram todos felizes, mas acho que uns 28 foram, graças a Deus.

Nadir Telaroli da Silva

Nadir Telaroli da Silva
Enviado por Lacy Alex McIntyre em 13/12/2023
Reeditado em 13/12/2023
Código do texto: T7952852
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