Querida Edite.

A minha avó adoeceu, passou mal repentinamente naquele dia e as suas filhas ligaram de imediato ao irmão, o meu pai, para que ele a levasse às pressas para o hospital, e assim o foi. Passando-se o tempo de internação, descobriu-se um tumor no cérebro, notícia inesperada e lastimável, pois a família acreditava seguramente que era apenas um mal-estar, devido ao aumento da pressão ou a própria diabetes. Com isso, os netos e filhos revezavam para cuidar dela na clínica; no grupo da família, enviavam fotos de minha avó, afirmando positivamente o estado de melhora da sua saúde, mas, no íntimo deles, sabiam que não era bem assim. O meu pai chegava em casa com um semblante preocupado, mas, mesmo quando eu perguntava a respeito dela, ele dizia para mim que estava tudo bem e que, caso fosse da vontade de Deus, Ele a restauraria. A família orava em prol disso. O meu pai, triste e esperançoso ao mesmo tempo, ia ao monte e rogava a Deus. E ele tinha plena confiança de que o Senhor iria trazê-la de volta. Ela definhava, falava debilmente, rememorando lembranças antigas, confundindo nomes, e chegava a perguntar, inclusive, por mim; às vezes nos falávamos por alguns minutos ao telefone. Era deprimente. Chegou o momento do doutor anunciar a cirurgia e, com isso, deixou a família decidir se a equipe médica deveria realizá-la ou não. Então, às sete horas da noite, os filhos reuniram-se na casa de minha avó para determinar isso, e ficou decidido que sim, a operação deveria ser efetivada. No entanto, ela não resistiu a cirurgia, veio a óbito. E, nesse dia, o céu encontrava-se nublado, lúgubre, enternecido. Descobri o seu falecimento dessa maneira: pelo céu, pela atmosfera lânguida que se instalava, o silêncio, o olhar inexpressivo de minha mãe e a rudeza de meu pai. Eu estava em estado de choque. Admirei a força de meu pai, mantendo-se firme e ajeitando os preparativos para o funeral. Em seguida, estávamos nos direcionando ao salão do velório onde achava-se o cadáver e, não sabia que iríamos nos deparar com o corpo; o meu pai estava de braços dados comigo e minha mãe, impelindo-nos para lá. Visualizei a minha avó coberta no caixão, com um véu fino e branco cobrindo-lhe a face serena e, observando que ele não balançava por causa do não respirar, dei-me conta da morte, o meu peito arfou e chorei. Todos choravam e se lamentavam. O meu pai ainda não havia derramado nem uma gota de lágrima por sua mãe, mesmo diante de seus irmãos. Mas, chegou um amigo e, com um único abraço, ele chorou. Nunca o tinha visto chorar, logo o meu coração apertou-se perante a sua angústia. Ele, em seu devaneio quase alegre, chegou a imaginar um possível ressuscitamento, como o de Lázaro na Bíblia. Depois aconteceu o enterro, com várias pessoas que a conheciam prestando-lhe elogios, lembrando dos bons e maus momentos. A sua amiga Fátima também estava lá. Nós, os netos, estávamos segurando rosas brancas em sua homenagem. Por fim, o meu pai, com a sua eloquência e ótima retórica, emotivo, proferia carinhosamente sobre a sua mãe, e pregava uma mensagem de paz, de fé, quanto a vontade de Deus e Cristo.

Mariizans
Enviado por Mariizans em 05/12/2023
Reeditado em 05/12/2023
Código do texto: T7947577
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.