O HOMEM E O MENINO

O HOMEM E O MENINO

Eu o conheci à beira de um rio, o Rio Roncador, na Bahia.

Naquele dia fizemos coisas incríveis! Contudo, o que ficou gravado em minha alma foi essa conversa que tivemos. Estávamos saltando sobre umas pedras enormes, explorando o lugar; as pedras, os poços, a prainha larga e extensa, os caminhos que levavam para a mata, o mato à beira do rio. Observávamos tudo com assombrosa curiosidade, pois era a primeira vez que íamos ali. O dia estava lindamente ensolarado. Perfeito para o nosso passeio. A conversa ocorreu quando pulávamos, feito cabritos, sobre umas pedras no leito do rio. Eu lhe disse:

- É preciso ter cuidado, menino, pedras são perigosas, a gente pode cair e se machucar (queria dizer a gente pode morrer, mas evitei qualquer tipo de alarmismo, senão eu podia perder credibilidade, parecendo só mais uma tia chata). A sua resposta foi um – Né, não! E continuou pulando como se eu não houvesse dito nada de importante.

Então, insisti: - Um descuido, a gente cai, bate a cabeça na pedra e pode até morrer ... deixei de lado o jeitinho e falei com todas as letras.

- Eu não caio! Jesus pega na minha mão! Ele falou com a carinha mais faceira e confiante que eu jamais havia visto. Imaginei, por um instante, a cena; mas, humana que sou, e me certificando de que ele não estaria sendo muito inconsequente, retruquei:

- Jesus ajuda, mas temos que fazer a nossa parte, né?

- Eu olho onde piso, eu tenho cuidado, mas mesmo assim eu peço que Ele me cuide.

Essa resposta calou a minha boca. E nessas alturas, eu já havia me dado conta de que eu estava sendo um exemplo para ele, já que eu estava pulando de pedra em pedra. A inconsequente ali era eu. Tive pressa de nos tirar de lá.

Olhei com amor para aquele serzinho, refiz a cena na minha cabeça, o homem e o menino saindo das pedras de mãos dadas e indo caminhar à beira do rio. Ri comigo mesma. Tive certeza de que era exatamente isso o que acontecia.

Ele olhou pra mim, com o olhar mais terno e brilhante que eu já vira, peguei na sua mão e o conduzi até a areia, na prainha larga e extensa, e por ali caminhamos em silencio, por algum tempo que não sei precisar.

Estávamos em paz!

Que alívio! Eu só conseguia pensar: Graças a Deus deu tudo certo! Eu jamais me perdoaria se qualquer coisa de ruim acontecesse ao nosso menino.

Dora Dias Silva – Utinga, 01 de dezembro de 2023.

DoraSilva
Enviado por DoraSilva em 02/12/2023
Reeditado em 04/12/2023
Código do texto: T7945562
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