Manhãs de setembro
A noite foi longa e escura, o corpo recusava dormir, os pensamentos divagavam por uma estrada sem fim. Não sentia nada, não sentia medo, não sentia fome, não sentia sede. Apenas sentia uma forte dor na alma.
De madrugada caiu copiosa chuva, e o forte vento parecia não entender uma profunda tristeza que assolava o meu coração ferido. Queria fugir para minha infância, onde eu era feliz. E conversava com os meus amigos imaginários. Eles entendiam a minha alegria e minha dor. Eu era amigo do Peter Pan.
Adormeci um pouco e tive sonhos surrealistas, sonhava que estava caminhando num deserto a procura de água. Não somente água, mas alguém que entendesse a minha solidão.
Acordei, tomei uma ducha, bebi apressadamente um café sem açúcar e corri para pegar o transporte publico. Olhei para todos os lados, e havia rostos tristes, calados, sofridos e perturbados. Ninguém estava interessado em ninguém. Ninguém queria conversa. Todo aquele rebanho solitário queria apenas chegar no seu destino. E no final do mês levar um parco salário.
Eu, comecei a meditar e pensar, cada um tem sua dor. Cada um carrega dentro do peito e coração: mágoas, tristezas e ressentimentos. Pensei, a vida é curta, viver é perigoso.
Logo, resolvi deixar o passado para trás, afinal quem vive de passado é museu. Futuro talvez não chegará. O que tenho certamente é o presente, que é um presente.
E resolvi ser feliz hoje. No final do dia voltei para casa, tudo estava diferente. Perdi a solidão no meio da multidão. Cheguei em casa fritei um ovo, coloquei no pão. E liguei um velho rádio de pilha e naquele momento tocava uma velha canção, que foi como bálsamo para o meu coração, que dizia assim:
"Eu quero sair, eu quero falar, eu quero ensinar o vizinho a cantar, nas manhãs de setembro".