Minha avó, Diu
De índios e pretos, um destino forjado!
Uma Maria! Um braço a mais para o arado!
Com enxada na mão e machado empunhado
Plantou para nós a força de um legado.
Mãos araram terra alheia
Coração não aceitou pobreza como cadeia!
Frágil no corpo, sertaneja na alma
Sede de vida cortada da palma.
Que sonhos sonhou essa mulher da lida?
Quem ouviu seu choro, sua lágrima doída?
Por quem foram seus ais, sua dor recolhida?
Que jardins regou com seu vestido de chita?
De poucas palavras, mulher de atitude!
Silêncio orquestrou sinfonia tão rude!
Toada que ecoa em mim como virtude.
Seu rosto, sua história, melodia amiúde.
Diu, Sá Maria, de Jesus uma menina
Capinando sua saga, vai trilhando sua sina
Rudia na cabeça, lata d´água e peneira,
Sem eira nem beira, vai subindo a ladeira.
Vai carpindo suas dores, capinando suas flores
Sá Maria, cadê Bela? Manoel e seu chapéu?
Vai correndo, vai sem medo, que o relógio já bateu!
Sob os trilhos da despedida, corre a vida que morreu!
E hoje, nesta pós-moderna era
O que firme foi - já era! Dilúvio do Ocidente
Água abaixo, lama acima, ocaso do vivente?
Minha avó, você foi luz, uma esperança no meu poente.
Obed R. de Souza
23/11/23