Primeiro amor
Meus olhos o admiraram por cinco anos. Minha mente vivia de suposições. Era aquele jeito esquisito de andar, os óculos antiquados ou as lentes de contato, as veias saltantes nos braços, as roupas pouco descoladas e a doce mistura de timidez com inteligência. Ele era como uma peça de roupa cara exposta numa vitrine, à qual eu jamais poderia comprar. Eu era como uma tiete boba que sequer teria coragem de pedir um autógrafo. Não que ele fosse famoso. Porque não era.
Eu gostava das coisas que tínhamos em comum. Mas admirava também sua excentricidade. Ele tocava violoncelo, falava francês e era estudioso. Quando eu o conheci, eu era focada demais no passado, enquanto ele vivia no futuro.
Nos falamos duas vezes. Apenas. Na primeira eu tomei uma garrafa de coragem e puxei assunto na escola. Na segunda vez, eu o acordei quando chegamos ao ponto final do ônibus.
Depois disso só restaram lembranças mescladas à minha imaginação fértil do que poderíamos ter sido. E não fomos. Nunca fomos.
Ainda bem.