Pão com mortadela

Pão com mortadela

Diante de tantas opções de lanches que existem atualmente, fica difícil saber qual é o preferido, certo? Para mim não. Está bem definida minha preferência.

Há trinta anos minha família e eu vivenciamos uma grande aventura. Só descobri que foi uma aventura, porque certa vez, há muitos anos, contei essa história para minha amiga e vizinha. Ao terminar o relato, ela exclamou: Que aventura! Pois bem, foi assim: Meu pai fora sorteado com um “pedaço” de terra no Acre. Agricultor, extremamente trabalhador que era vira nisso uma oportunidade de sustentar a filharada com mais folga. E que filharada! Na época éramos seis: Três meninos e três meninas, o mais novo só nascera três anos depois, já no Acre.

Acredito que ainda era um resquício do Projeto do Governo Federal “Integrar para não entregar”. Além do lote doado, também tínhamos ganhado as passagens em um ônibus exclusivo. Neste ônibus vieram três famílias: A nossa, a do meu tio materno e de um senhor, que se tornou nossa amiga até hoje. Cada família possuía filhos. Já sabem que éramos seis. Mais cinco primos e três, que eram filhos do senhor, que até então não eram nossos conhecidos.

Para cada criança ou adolescente, tinha outro da mesma idade. Ilustro aqui: Minha prima e eu tínhamos a mesma idade, minha irmã mais velha, que estava na pré-adolescência fazia trio com um primo e um dos filhos dos nossos mais novos amigos, meu irmão mais velho, par com o menino da família que viajava conosco, meu irmão, que é próximo de mim com outro primo...

Será que conseguem imaginar, leitores, (quanta pretensão imaginar que mais de uma pessoa lerá o texto) como foi essa aventura, ou seja, viagem. Não queira saber se houve brigas ou discussões, pois já é cobrar demais das memórias de uma criança, quase um bebê. Mas há episódios bem pontuais que o tempo jamais terá a capacidade de apagar.

Meu pai, como grande pai que era, não se bastava de cuidar dos filhos. Tal qual uma galinha que não apinha somente seus pintinhos no temporal, mas tantos quantos estejam ao seu redor. À noite, ele fazia a ronda dentro do ônibus, cobrindo todos nós. Dormimos nestes dias no corredor do ônibus. Não disse ainda, nossa viagem durou seis dias.

Tudo certo. Falei muito, mas ainda não cheguei ao ponto principal da memória, no título do texto. Na preparação da viagem, minha mãe e minha tia fizeram muitos pães caseiros para alimentar todos. Lembro-me nitidamente que todos os pães foram colocados em um saco de pano. Será que ainda fazem isso hoje em dia? Queria muito saber. Lembro-me da parte dos pães, do outro ingrediente, quase personagem dessa história não sei como foi parar na viagem. Provavelmente meu pai e meu tio compraram. Nunca perguntei, mas ainda posso fazer isso. O fato é que passamos grande parte da viagem comendo pão com mortadela. Manjar dos deuses para crianças e adolescentes de paladares pouco exigentes.

Fato é que mais ou menos no meio da viagem não conseguíamos mais comer o famoso lanche. Enjoávamos até de olhar. A viagem transcorreu. Ainda me recordo que paramos a beira de um rio de águas límpidas, com pedrinhas ao fundo. Ali os homens fizeram um fogo rústico, as mulheres fizeram um almoço. Acredito que depois voltamos a comer pão com mortadela com o mesmo gosto de antes.

Não sei se há alguma teoria, ou se algum filósofo já falou sobre que quando comemos somente algum tipo de alimento em determinado período, seja lá qual seja a circunstância, tendemos a detestá-lo pelo resto dos nossos dias. Porém, fujo à regra: Amo pão com mortadela. Ah, sim! Só uma correção: Prefiro o pão francês com mortadela, ao invés do caseiro.

E você, qual o seu prato favorito? E por quê?