Há um tempo dele.

Há tempos não ficava zonzo daquela maneira, minhas mãos formigavam, as pernas cambaleavam, a dor de cabeça que o álcool causara não superava a raiva. Eu já havia chegado ao meu limite, só não havia limite para o quanto eu a desejava, o quanto eu a amava. E de alguma forma mesmo em meu estado deplorável, eu ansiava por voltar para casa e encontrá-la. Mesmo que ainda irritado, mesmo que a discussão voltasse, era ali onde eu queria estar. Meu ego não poderia levar tamanho desaforo, a raiva cresceu e o caminho para casa estava errado, mas à essa altura eu já havia batido na porta errada, buscando a pessoa errada.

— Achei que nunca mais o veria. O que o traz aqui? — Aquela voz ecoou pelo fundo da minha mente, sarcástica e maldosamente satisfeita o bastante em me ver ali novamente.

— Você pode me dar o que eu preciso. — Murmurei.

E dali por diante, posso dizer que não não havíamos mais o que dizer. Eu a dominei em meu colo enquanto suas coxas abraçavam meu quadril, ao mesmo instante que seus lábios se perdiam em meu pescoço, foi inevitável não gemer com a intensidade dos chupões. E em poucos instantes eu já estava debruçado sobre ela na cama, naquele pequeno quarto escondido do mundo, escondido de mim mesmo. Apertando e forçando meu corpo contra o dela, de uma forma que jamais havíamos feito, não fora com ela com quem aprendi a agir assim, a fazer assim. Suas mãos passeavam pelo meu corpo com tanta ferocidade, apertando seus dedos em meus braços, ela mordia meus lábios com vontade, marcava território em meu pescoço, enquanto eu dilacerava a alma entre suas pernas. Não me recordo do tempo, meu corpo ainda permanecia aos giros, mas foi breve que minha mente voltou ao real. Não era ali, não era aquilo, não era ela. E ali eu desfaleci de chorar, já do outro lado da cama. Devastado e cansado.

Quando amanheceu o sol era outro, nele havia desespero, tristeza, e uma cordilheira de arrependimento que me cobria. Mas o quão inepto fui ao retomar e guardar aquele contato e fora apenas de mera ajuda para limpar meu vômito naquela noite. Mas o guardei, já prevendo me afogar novamente naquele inferno que busquei.

Eu poderia beber meu próprio veneno e morrer.

O telefone que eu ligava só tocava repetidamente, a casa estava vazia, o cheiro dela não estava mais ali. E quando o telefone cessou, fiquei estático, mas buscando esperança na verdade. E naquele instante um terremoto atingiu a cordilheira, desabando tudo que havia atrás, no meio, e na frente. E ali fui morrendo, enquanto a ouvia desabar pelo outro lado da linha. Como um carrasco pedindo perdão, eu me ajoelhei de alma, mesmo se fosse pra olhar em seus olhos apenas mais uma vez.

Com as piores palavras que já puderam ser ditas, ela encerrou. Vomitei meu nervoso e chorei ajoelhado no meio da sala, pois eu sabia, não teria mais seus cabelos espalhados pela casa.

Graziella Leite
Enviado por Graziella Leite em 21/10/2023
Código do texto: T7913412
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