As marcas do que seriam apenas quinze dias
Era para ser mais um dia como outro qualquer. Mas de repente o mundo parou. As crianças não iam mais à escola, os adultos não saiam para trabalhar. Nos supermercados as filas estavam quilométricas. Todos corriam para abastecer as despensas. Os jornais, a todo instante, anunciavam que a pandemia havia chegado. E no meio desse caos, estava eu, uma jovem de 19 anos que mudou-se para a cidade grande para a tão sonhada jornada universitária. Mas, infelizmente esse sonho precisou ser interrompido…
Foi, então, que em um pequeno quarto de Kitnet, eu passei a me ver sozinha, longe de casa e das pessoas que eu amava. A tristeza foi batendo em minha porta, trazendo com ela a sua velha amiga solidão, acabei deixando elas entrar, pois estava frágil e com medo de toda aquela situação. Os dias pareciam não ter mais cor, estava tudo nublado.
Assim, a tela fria do meu computador tornou-se minha melhor amiga. Foi por meio dela que eu vi a minha sobrinha dando os seus primeiros passos. Mas, foi também por meio dela que vi minha avó dando os seus últimos suspiros de vida. É! a covid-19 a levou, sem que ao menos eu pudesse me despedir.
Então, a cada dia que se passava, eu sentia mais falta do calor humano, das risadas dos meus amigos, de correr pelas ruas, de ir ao supermercado sem me preocupar em morrer. Mas, tudo mudou! Seria esse o fim do mundo? Eu sempre me questionava nas madrugadas infinitas.
As ruas antes tão movimentadas por crianças a brincar, carros, motos e pessoas circulando virou um verdadeiro deserto. Eu não tinha mais certeza do amanhã, fui perdendo entes queridos e me perdendo de quem eu era. Aqueles quinze dias de confinamentos virou dois anos de grandes pesadelos que ficarão sempre marcados em minhas memórias.
Renata Mamede de Lima