Papai morreu (101 anos, lúcido)
Quando cheguei ao funeral mui triste
Ver meu herói vencido pela morte,
Forte lembrar; Dela riste!
Quanto lutaste, resististe,
Mas ela venceu tua sorte!
Âncoras profundas levaram,
Suspiros, desejos, paixão,
Dos teus amores separaram,
Sem piedade te encerraram
Neste tão frio caixão!
Como conter-me de choro?
Se morro junto, papai!
Essa dor me amordaça,
Se foi de nós toda graça,
E quanto rimos na praça,
Só essa saudade não sai.
Vai tristeza, vá embora!
Essas lembranças de outrora...
Deixa-me ao menos vazio!
Suportarei poucas horas,
Irei também onde moras,
Como nesse caixão, frio!
Enterraram as aventuras,
Os sonhos, nossas conversas,
Imersas em nosso trabalho,
Nosso jogo de baralho,
Nessa morte tão perversa!
Mas sei, porém, que um dia,
Esta fria noite funesta
Essa tumba escura, sombria
Esta desdenhante agonia
Que nossa alma detesta…
Tem os seus dias contados
Por Deus, em seu livro sagrado,
No Decreto do Senhor
Pelos Anjos és levado,
Mas serás ressucitado,
Viverás em eterno amor!