A escadaria

Todas as tardes, encontrava refúgio em uma antiga escadaria de pedra em uma cidade que visitei a trabalho. Eu era um poeta solitário, e aquele era o lugar onde me sentava para observar o cotidiano e as pessoas que passavam. Uma figura misteriosa sempre chamava minha atenção: uma mulher com longos cabelos escuros e olhos profundos. Todas as tardes, ela caminhava por ali e me presenteava com um enigmático sorriso.

Um dia, enquanto eu estava lá, como de costume, ela não apenas sorriu, mas se aproximou e se sentou ao meu lado. "Boa tarde," disse ela, quebrando o silêncio que havia perdurado por semanas. "Tenho te observado aqui todas as tardes, sempre sozinho. O que faz aqui? Qual é a sua história?"

Surpreso por sua abordagem direta, respondi: "Estou aqui para observar, para encontrar inspiração na vida cotidiana e nas pessoas que passam por aqui."

Ela sorriu e, com curiosidade, pegou meu caderninho de poemas que estava ao meu lado. Folheou algumas páginas e perguntou: "Você é um poeta? Posso ler alguns de seus poemas?"

Assenti com a cabeça, sentindo uma mistura de nervosismo e empolgação. Ela leu alguns dos meus poemas em silêncio, mergulhando nas palavras que eu havia escrito. Depois de um momento, ela olhou para mim e disse: "São lindos. Você poderia fazer um poema para mim?"

Fiquei lisonjeado por sua solicitação e, inspirado por sua presença, comecei a escrever um poema ali mesmo, naquela escadaria de pedra. Cada palavra que surgia era um reflexo do mistério e da beleza que via nela. Quando terminei, entreguei-lhe o poema.

Ela leu com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios. "É maravilhoso," disse ela. "Você capturou minha essência. Obrigada por este presente."

Nossos encontros na escadaria continuaram, agora também marcados por nossa paixão compartilhada pela poesia e pela arte. A cada tarde, compartilhávamos nossos pensamentos mais profundos, enquanto o mundo lá embaixo seguia seu curso. E, quando chegava a hora da despedida, eu a observava se afastar na multidão, grato por cada momento compartilhado e ansioso pelo próximo encontro na nossa amada escadaria.

Enquanto nossas conversas continuaram a fluir, descobrimos que tínhamos muito mais em comum do que imaginávamos. Compartilhamos histórias de vida, nossos sonhos mais profundos e até nossos medos mais ocultos. Ela se tornou não apenas minha musa, mas minha confidente e amiga leal.

A cidade que visitei a trabalho se tornou, por sua causa, um lugar de memórias preciosas. Os cantos, as ruas e, acima de tudo, aquela escadaria de pedra, agora eram impregnados com significado e afeto. Quando a data da minha partida se aproximou, uma sensação de melancolia se instalou em meu coração.

Em nossa última tarde juntos na escadaria, o sol se pôs lentamente no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Sabíamos que era hora de nos despedirmos. Ela se levantou e me deu um beijo no rosto, seguido de um caloroso abraço.

"Vou sentir sua falta," disse ela, com um olhar nostálgico. "Nossos encontros aqui foram uma bênção em minha vida."

Eu concordei com um nó na garganta. "Eu também vou sentir sua falta. Você trouxe luz e inspiração para meus dias ali."

Nosso adeus foi repleto de palavras não ditas, de emoções compartilhadas e da promessa silenciosa de que, onde quer que a vida nos levasse, nossa amizade continuaria a florescer. Enquanto a vi se afastar na multidão, eu permaneci na escadaria, observando o pôr do sol, grato por cada momento que compartilhamos e ansioso pelo dia em que nossos caminhos se cruzariam novamente.

Pasia Aventuristo
Enviado por Pasia Aventuristo em 27/09/2023
Reeditado em 28/09/2023
Código do texto: T7895758
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