19 DE ABRIL DE 2023! O DIA QUE A ONÇA CHOROU !

No centenário do nosso torrão, venho homenagear aquela que muito nos deu a mão.

Levantou sua mão para benzer, para ninar os seus, para pegar a lenha e acender o fogão, para mexer a farinha, preparar o beiju e para ir até o chão.

“ Foram me chamar, eu estou aqui o que é que há!

Foram me chamar, eu estou aqui o que é que há!

Eu vi de lá , eu vim de lá pequenininho, mas eu vi de lá pequenininho,

Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho. (bis)”

E foi devagarinho que essa mulher, guerreira, batalhadora chegou nesse chão.

Benzedeira, de mão cheia. Seu dom foi experimentado por muitos de todos os cantos que curou pela fé.

Matriarca de uma grande família que criou pelo exemplo e pelo amor. Todos que se aproximaram dela experimentou.

Dona Maria José, quem nunca parou para ouvir suas histórias e gargalhadas não saberá nunca o que é ter medo e rir absurdo.

Ela fez parte da minha infância! Comi muita goiaba e chupamos suas mangas da antiga casa, no terreiro mais em cima e sem falar nas corridas por causa dos cachorros. Tempo bom que não volta atrás.

Foi através dela que escrevi um texto sobre a estrada funda e suas estórias cabulosas a exemplos: o gato preto e o caixão na cancela do finado seu Bebé.

Feliz de quem teve a oportunidade de beber dessa fonte do saber.

Dia 19 de abril, no dia da resistência, dia dos povos indígenas, ela partiu. A nossa comunidade está de luto, pois perdemos um ícone da nossa história e cultura. Um baluarte que partiu.

A onça chorou!

A onça calou!

A onça está muda...

O terreiro de Santa bárbara nunca mais será o mesmo sem suas peraltices.

Pois quem mexia, quebrava, requebrava e sambava era ela. Deixando essas novinhas no chão.

Falando em chão, não vamos mais pegar o sol com a mão para celebrarmos sua vida. que este ano faria 90 anos, bem vividos.

Devota de Santa Bárbara, fazia questão de cultuar seus ritos.

E agora José?

José cadê Manue?

Manue, já encontrou Maria José por ai?

O céu estar em festa!

Nossa cultura e comunidade estão órfão. No domingo da Páscoa foi a despedida. Ela esperou ser passado o bastão para você ser chamado, mestre Genilson.

Mesmo enferma requebrou muito no terreiro de Santa Bárbara a qual lhe deu forças para aquele último momento.

E agora Genilson? Nilma? Nininha? Zeilde? Netos, bisnetos, trinetos e quem sabe tataranetos?

Genilson o canto daquele dia soou um adeus e não sabíamos

“ Sou eu, sou eu

Sou eu amor de mamãe

Sou eu, sou eu

Sou eu amor de mamãe”.

Vocês são o amor de mamãe, seus netos, bisnetos e trinetos, familiares e amigos foram o amor de mamãe.

Nossa comunidade se despede de dona Maria José.

Descanse em paz.

El. Marcolina

El Marcolina
Enviado por El Marcolina em 26/09/2023
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