Cartas de MJR - à irmã Sil e ao Pai

À minha irmãzinha e meu adorável pai

 

Vocês que estão distantes de mim quero que saiba que sinto muito saudades de vocês, saudades estas que cada vez mais cresce no meu coração. Sinto uma incrível solidão longe de vocês. Sei agora o que significa realmente uma família que não há nada no mundo que poderá fazer eu me esquecer de vocês. Gostaria que vocês me escrevessem uma carta, principalmente você pai que até agora não me escreveu nada. Me contem como vocês estão, quero saber se a Nega está estudando e se o pai ainda está trabalhando muito. Me escrevem tudo o que está acontecendo por aí. Queria que vocês soubessem que eu esto bem aqui. Queria que vocês soubesse que aprendi muito da vida. Fiquem tranquilos comigo que eu estou muito bem de saúde e trabalhando para o tio, até já trabalhei com a colheitadeira do tio colhi milho e soja, e também dirigi o caminhão dele um Mercedes 1113. Agora só falta eu tirar a carteira de motorista. Eu estou gostando muito daqui, o clima é bom, não é frio e nem muito quente. Bem tenho que terminar esta carta porque já é tarde. Um abraço e um beijo para vocês todos. Nega eu gostaria que você só entrega-se a carta da mãe no dias das mães. Despeço-me de vocês com muitas saudades e desejo de vê-los novamente, coisa que acho que brevemente acontecerá ois eu tenho que ir para lá para resolver o negócio da moto. Tchau! Do seu querido Milton.

 

Sil

"Fala com sua mãe que o terço já está bento, é da Terra Santa e nele tem um pouquinho de Terra Santa". Hilda (minha tia mineira que conheceu meu tio num bar. Ele embriagado deixou cair o chapéu, ela ajuntou... foi um casamento longevo. Meu tio Ângelo, já é falecido).

 

Depois de receber esta carta em maio e outra em setembro de 1991 solicitando ao pai escrever, meu pai escreveu a única carta na vida de próprio punho. E ela começava assim: "filio mio, te esgrevo poucas palavras porque muitas eu não sei escrever" e imediatamente após escreveu mais umas linhas sobre seu trabalho de pedreiro - era descendente de italianos e por isso o "filio mio". Sim, sou italianinha. 

 

A frase de meu pai mostra de onde meu irmão e eu herdamos a veia poética. Meu pai era artesão das pedras. Há um poema em meu perfil denominado O Poeta das Pedras em homenagem a ele que fabricava e escrevia em lápides de cemitério, anjos, flores, vasos, palmas de cimento em formas de gesso para os túmulos dos falecidos. 

 

MJR faleceu dois anos depois com apenas 23 anos. Então a carta foi escrita quando ele tinha 21.